29 de agosto de 2008

Uma Boa Posição

Eu ainda não sei bem o que é ser iniciado científicamente. Olhe que quem diz isto é um estudante que fez duas iniciações ciêntíficas no curso de graduação. É que nada aprendi de verdade ou nada desenvolvi que me dê a sensação de tarefa cumprida. Na verdade, nem mesmo de tarefa iniciada. O problema vou contar agora.

Quando no quarto/quinto período do curso, eu pedi iniciação ciêntífica a um professor do departamento de física da UFPE. Ele havia sido meu professor em duas disciplinas e um ótimo professor, diga-se de passagem. Quando eu fui conversar com ele sobre a possibilidade de fazer uma iniciação ciêntífica com ele fui até bem recebido, até que os problemas começaram a surgir.

O primeiro deles é que, devido ao meu retardamento em pedir (demorei muito a dar entrada de fato) eu perdi a bolsa de iniciação científica, pois o professor só dispunha de uma bolsa e já tinha um estudante bolsista no laboratorio. O segundo deles é que eu era estudante da licenciatura e, pelo que deu pra perceber ao longo do tempo, ele sempre achou que eu ia terminar apenas ensinando mesmo, sem seguir carreira acadêmica (mestrado, doutorado) e, por isto, sem ser necessário fazer uma iniciação científica de verdade.

Quanto ao problema financeiro, eu disse a ele que poderia fazer a disciplina Iniciação Científica (IC) assim mesmo, desde que, ao menos, ela contasse no sistema da Universidade como crédito e carga horário realizados. Ele concordou e o resultado é que eu passei nas duas disciplinas "em cima da média", quer dizer, com 7,0 (IC I) e 7,5 (IC II) onde a média de aprovação da universidade é 7,0.

Isto quer dizer que sou um estudante muito ruim, ou um iniciado cientificamente "meia boca", pois todo mundo tira nota razoavel acima dos 8,0 pelo menos, e olhe que esta nota é relativamente baixa... Eu poderia ficar triste e achar que eu tenho algum problema, questão esta que não está fora de cogitação, mas tenho outras perspectivas sobre o futuro e sobre o que aconteceu de fato.

Sim; eu sou um iniciado cientificamente "meia boca", mas acho que a culpa é tanto minha quanto, e talvez mais, dele. Eu não sabia o que era ciência e como é lidar com experiências científicas (e nem sei), e o papel do professor é ensinar ou orientar quanto a este quisito, eu acho que isto não foi feito.

O dia-a-dia do laboratório era sempre o mesmo: fui encarregado apenas de ajudar um estudante de mestrado a terminar seus trabalhos, e o estudante sempre me dava a entender que eu atrapalhava mais que ajudava, uma vez que o trabalho estava já muito adiantado e havia pouco tempo para ele fazer a dissertação de mestrado dele, e tinha que correr.

O professor raramente aparecia. Me deu um trabalho de analogias mecânicas que nunca pôde ser feito na oficina porque ninguém deu muita prioridade, nem mesmo o professor; até dá pra entender visto o pouco tempo que os caras tem. No final eu ficava sem ter o que fazer apenas deixando o tempo passar; só eu não, o professor e os estudantes achavam que estava tudo certo assim. Desde este tempo dava pra sentir que ali não tinha espaço pra mim...

Assim neste regime minha nota ficou no nível dos sete. O professor nunca disse o que queria e deixou deste jeito. Na primeira vez eu concordei que merecia nota baixa, mas depois, na segunda, quando houve um certo esforço em obter os resultados (depois que o estudante de mestrado já não frequentava o laboratório), fico chateado por ele dar sete e meio, depois do laser sair do lugar duas vezes e eu colocando ele de volta; depois de estar tudo na minha cabeça mais ou menos compreendido e depois quando tudo está certo para fazer um bom trabalho de mestrado, que era a minha pretensão naquele laboratório.

Mestrado... Ah! Mestrado... Lá estava eu vagando pelos corredores do departamento me perguntando o que ia fazer no mestrado e resolvi falar com o professor. Então ele me disse, cordialmente, que estava com muitos estudantes e, como seu trabalho era puramente experimental - que precisa de espaço para trabalhar, eu provavelmente ia ficar com um trabalho interrompido ou mal feito se continuasse no laboratório. Em outras palavras: não tem espaço para mim. Depois de algum tempo eu fico me perguntando se esta é mesma a verdadeira razão.

A felicidade, para coroação de um curso cheio de desapegos à vida feliz e normal, foi a notícia de ter sido aprovado no mestrado do departamento. Não poderia haver notícia melhor depois de todo o esforço destes anos ali estudando e aturando coisas sem necessidade que alguns insistem em manter na tradição da física pernambucana.

Em relação a este professor, tema da postagem, eu ainda tinha um assunto pendente - e que vai permanecer pendente indefinidamente: o projeto mecânica da analogia, aquele que mencionei depender da oficina do departamento. Quando fui falar com ele sobre o assunto (e agradecer a carta de recomendação) ele me parabenizou por ter passado no mestrado e, para minha inocente surpresa, soltou um feliz: "Você até ficou numa boa posição" e esta é a frase mais estúpida que alguém poderia dizer a seu orientando, ou ex-orientando, sei lá...

Vamos aos fatos: foram aceitos nove estudantes para o mestrado no DF-UFPE. Minha posição no rank é quinto, ou seja, existem quatro na frente e quatro atrás. Os quatro da frente são do departamento e os quatro atrás, com excessão de um, são de fora. Meu histórico escolar não conta com nenhuma reprovação e média geral entre 8,0 e 9,0. Como sou da licenciatura espera-se que esteja atrás de todos os bacharéis. Sou um estudante pelo menos razoável, não é? Então eu me pergunto: se eu fiquei "até numa boa posição", qual deveria ser o posição que ele esperava?
A minha queixa quanto a isto é que, se não deu para eu "lucrar" com a bolsa de iniciação científica, eu poderia ter ao menos "lucrado" com a aquisição de um conhecimento mais sólido e muito melhor trabalhado; mas até isto foi "meia boca".