Conheci uma bruxa muito triste e infortunada, que saia vagando por entre as árvores do bosque e às vezes por suas copas, saltitando. Certo dia consegui falar com ela e perguntei-lhe do motivo de tamanha tristeza que levava consigo. Ela, então, atenciosamente, me contou sua história.
Uma vez durante sua juventude ela resolveu enfeitiçar um rapaz e para tanto precisava de um objeto que o representasse, que fosse dele e que ele gostasse muito. Sua mestra em feitiçaria sugeriu que obtivesse algo que ele fosse muito apegado, e sua mestra em poções sugeriu que pegasse um pedaço de algo que fosse do corpo dele. A jovem bruxa resolveu então pegar uma peça íntima, que ele certamente sentiria falta e que não estivesse limpa, para que tivesse a essência da vítima.
Não lhe faltaram avisos: "quando uma bruxa faz o feitiço, volta-lhe o efeito em triplo", "se der errado, a intenção ainda valerá e você pagará pela natureza do feitiço"... A pequena bruxa estava resoluta e não queria mais esperar. Na décima noite de Outubro, antes da Lua cheia da Deusa, ela invocou forças que se contrapunham a natureza e rougou ao garoto sua maldição tão desejada.
Estas coisas não acontecem de uma hora para outra, se passa algum tempo para que o feitiço "pegue". Ela esperou dia-a-dia para ver o garoto infortunado. Os seus dias, enquanto esperava, ficaram cada vez mais nebulosos e tristes, enquanto os dias do rapaz eram cada vez mais alegres e esbanjavam juventude.
Sua mestra em ciências naturais perguntou-lhe: "qual o objeto usado no feitiço?", e ela respondeu meio sem graça, "uma peça íntima". A mestra realmente não entendeu o caso e invocou o poder daqueles objetos místicos que falam de maneira oculta e que ninguém nunca entende; este respondeu com versos: