15 de dezembro de 2010

Água

...

É como se eu tivesse sede.

Te ouvir
Te ver
Te tocar

E como eu gosto de beber!
...

9 de dezembro de 2010

Tratamento de choque

Num muro estrelado (que começo lindo hã) eu vejo o néctar da vida que derrama do peito aberto de uma jovem suicida. Que loucura, que insanidade. É preciso chorar.
Eu choro lágrimas embriagadas em um copo de bar, e no copo vazio eu sinto a solidão. A depressão que irá me acompanhar enquanto espero a próxima rodada chegar.

Nos bares as histórias se misturam. Todos tem seu poema, todos tem sua canção. Naquelas mesas sujas eu escuto o conto de João.
"Saia daqui seu imundo, filho de Satanás. Já não é a primeira vez"
João perdeu o emprego por que falou um palavrão.

João pegou suas economias. Tudo o que tinha pra pagar o que devia (a geladeira de sua mãe), e comprou uma arma e saiu pra assaltar.
Assaltou um policial, coitado!

Paz! Ele era só um estudante.
Abaixo a violência!
Quem quer fumar maconha?
Quem quer um baseado?
"Maconheiro safado, quem matou ele foi você. Quem matou ele foi você"

E enquanto isso, o Sol se põe novamente.

Deixamos a vida escorrer pelas janelas e portas enquanto assistimos a programação da tv. Deixamos a vida passar na casa dos vizinhos. É problema deles.
Vendemos nossos corpos nos bares das esquinas. Vendemos nossas almas no conforto de nossas salas.
Vivemos entre loucos e psicopatas. Somos os loucos e os psicopatas
E aqueles que acham que podem se curar,
Receitam rivotril.

8 de dezembro de 2010

Quero responder também.

Já faz algum tempo que venho pensando em um marcador novo para este blog. No entanto, este é um marcador cuja proposta me parece cheia de perigos e dúvida, uma vez que o passado, às vezes, deve ser superado e não me parece sábio ficar remoendo questões há muito tratadas. Bem, a idéia é: por que não responder a comentários antigos (quão antigos não importa) em um texto? Às vezes releio postagens antigas e seus comentários (que dariam uma bela postagem) e fico com vontade de voltar ao tema, de chamar o comentarista novamente ao problema. Às vezes, releio comentários monossilábicos que me tem o mesmo efeito (rsrs), pois deixam margem à uma interpretação que deve(ria) ser levada em conta.

Muito bem! Marcador apresentado, em breve terá sua primeira postagem. =D

23 de novembro de 2010

Eu vejo o véu que cobre a próxima esquina
Escuto o som que o vento traz, contando histórias do passado
Eu tenho as chaves para abrir os portões da sua imaginação

Se deixa
Se solta

A medida do caminho em dois dedos de vinhos
É só o que resta
A tempestade se aproxima e eu procuro abrigo
E sombra
A incerteza me deixa inquieto
A incerteza me deixa inquieto
A incerteza me deixa inquieto

E o passado são só vozes mortas e olhares perdidos
Você andando num carro desgovernado e sem destino
Se me dizes o que te aflinge
Eu te digo o caminho a seguir
Mas se choras em meus ombros
Eu já não sei o que fazer

A incerteza me deixa inquieto
A incerteza me deixa inquieto
A incerteza me deixa inquieto

Me diz o que vem, o que anda escondido
Me lembra as cores de seu velho vestido
E então me segue no caminho proibido
Nós dois somente, nós dois somente, nós dois somente
E o céu

17 de novembro de 2010

Acorde, Angélica

Você me telefona e me conta
suas histórias de sorte e amor.
Com suas palavras erradas
e suas idéias distorcidas,
você me fala de sangue e dor.

Angélica, o seu romance acabou,
Angélica, o seu romance acabou.

Num quarto escuro você dorme sozinha com o próximo estranho que aquece-lhe o sono.
A Lua que ilumina a noite lhe lembra que é só mais sonho.
Um sonho. Me diga qual o seu sonho.
Um sonho. Me diga qual o seu sonho.
Um sonho. Me diga qual o seu sonho.

Você me telefona e me conta
suas histórias de luxúria e prazer.
Com suas palavras embriagadas
e suas idéias desconexas
você me fala sobre morrer.
Um sonho. Me diga qual o seu sonho.
Um sonho. Me diga qual o seu sonho.
Um sonho. Me diga qual o seu sonho.

Você segue o seu caminho
sentada num banco de praça.
Deixando os pombos famintos
devorarem as migalhas de sua alma
Um sonho. Isso tudo é só um sonho.
Um sonho. Não se iluda com um sonho.
Angélica, me diga qual o seu sonho.

9 de novembro de 2010

Super-dúvidas

Ontem a tarde eu estava passeando pelo campus da UNICAMP até que resolvi sentar em um dos bancos ao redor do círculo central que tão importante é que está presente no símbolo conhecido da instituição. Ainda não tenho muitos amigos com quem compartilhar uma gostosa tarde sentindo o vento e observando a bela paisagem arbórea de forma que, ali, eu me encontrava sozinho. Talvez, e com toda a probabilidade o é, seja supérfluo mencionar que dei uma volta, ao redor do círculo, de aproximadamente 270 graus apenas para evitar um grupo de estudantes da USP que vendiam assinaturas promocionais de revistas supostamente financiadas pelos cartões de crédito. O que importa realmente é que eu estava lá, sentado, olhando ao redor como se curtindo o bom tempo e o sol sorridente, mas na verdade internamente obcecado com questões acadêmicas e de cunho particular. Estando lá, como estava, vi o que vi e pensei o que pensei, como não poderia se não estivesse lá - dirão os médios: é claro! Eu respondo que existem aqueles que acreditam em destino e não se pode recusar a probabilidade de que aquilo só venha a ter acontecido porque eu estava lá para acontecer, de forma que se não estivesse lá, aconteceria onde quer que eu estivesse. Fora questões que não nos levam a lugar nenhum, vamos ao que interessa.

A única coisa que vi, de fato, vendo, com os olhos da carne, foi um senhor que se chegou para sentar ao meu lado. Complicado isto é, já que poderia te-lo chamado de rapaz, uma vez que velho não era, mais velho do que eu certamente, mas isto entra no questionamento de como eu deveria ser chamado, se rapaz deixei de ser e senhor ainda estou longe. O senhor-rapaz ao meu lado sorriu e me mostrou uma chapa de ferro, dividida sutilmente por uma fenda longitudinal, destacando quase que imediatamente as duas partes como se a chapa fosse de plástico. Eu não entendi o que aquilo queria dizer e fiquei muito mais impressionado por uma pessoa de Campinas sentar-se ao meu lado num lugar público que oferecia diversas outras oportunidades de assento individual do que com a graça que o que chegou fez. Eu, com a testa franzida propositadamente, o olhei com atenção e simpatia, já que ele trazia aparência simpática. O senhor-rapaz me ofereceu a chapa de ferro com a mão esquerda, quando a toquei, verifiquei que se tratava se um material realmente deveras duro para se quebrar ou dobrar. Depois que me viu manuseando o objeto com certo carinho, o senhor-rapaz o pediu novamente e lhe entreguei, ao passo que ele tinha dobrado o material com o uso de apenas uma das mãos. Diante de provocação tão direta, improvável seria se eu, mesmo sendo de natureza leza como sou, não notasse que o senhor-rapaz queria que eu o fizesse um super-herói.

-- Você é mágico? -- Imaginei logo que a presença de semelhante criatura ou significasse que cobraria por serviços de distração, o que cabe a um mágico como aquele, ou que me apontaria convite para um espetáculo onde a alternativa anterior caberia mais convenientemente. Só pensei em dinheiro, confesso.

-- Não -- Respondeu o senhor-rapaz com ares agora menos, se é que eram antes, formais -- Eu gostaria de companhia. Esta tarde está deveras prazerosa para se passar sozinho e sem uma boa conversa. -- Agora, mais que antes, estava certo de que o mágico era na verdade um homossexual atraído por algo da minha descuidada aparência (cabelo a cortar e barba mal feita de quem não fez por que tinha prova na manhã do dia em que estamos e passeou pela Unicamp para esquecer de todos os esforços mentais de decoração e alienação estudantis), mas desde que não fizesse nada demais, não havia problema em tê-lo ali para uma conversa. Talvez eu deva me ater um pouco mais neste ponto, o de eu pensar ser o homem-rapaz um homossexual, porque não se tratou apenas de um reflexo preconceituoso oriundo da impressão de uma tentativa de um homem se aproximar de outro sem motivos outros que banais e, com toda a probabilidade, pessoais, mas mais ainda do uso do esteriótipo bem conhecido de que homem de voz fina e movimentos delicados tem apreço por homem de voz grossa e ares de macho. Tá certo, tudo isto cai também no preconceito; fui preconceituoso por achar alguma coisa quanto ao mágico (não note minha falta de modéstia).

Sentou-se observando cuidadosamente se a areia havia sido devidamente evitada. Ao encostar suas nádegas no banco de cimento, não despejou ali seu peso, como se cuidando de sentir o frio da pedra ou de esquentá-la antes de se deixar entregue, mas foi deixando lentamente o peso transferir-se dos pés e da mão esquerda que servia de apoio para a região do corpo que toca a cadeira quando o indivíduo senta corretamente. Parecia um velho. Não esperou muito para dizer o que viera dizer e o que será extensamente relatado nos próximos parágrafos, uma vez que pensei que seria interessante trocar a forma de meu relato de primeira para terceira pessoa e o farei com devida atenção a partir de agora e assim continuarei até que a coerência me obrigue a voltar para a maneira do início com o único objetivo de dar aquela sensação de que o texto foi bem fechado no último parágrafo.

José era seu nome, e travava consigo mesmo uma batalha interna de imensa importância para a sanidade do estado de São Paulo ou, talvez com a evolução das tragédias, para o país. Ele, o senhor-rapaz, dotava de poderes sobrenaturais que, como o nome sugere, está sobre os naturais. Podia mover facilmente grandes pesos e se movimentar com velocidade razoavelmente alta, desde que, claro, como todos os humanos já devem ter notado, tiver algum espaço para se impulsionar do estado parado, ou como insistem os professores de física, de Vo = 0, já que o importante não era a velocidade, mas a aceleração que ele era capaz de suportar e provocar em si mesmo. José cresceu como qualquer outro garoto, mas como tinha acesso a proezas únicas, passou a obter êxito de quase 100% nas investidas de assalto ao dinheiro de seus familiares, naquela idade da infância que os garotos não sabem distinguir o que é seu do que é dos outros em casa. Aqui deve-se duas retificações, a primeira é que ele nunca assaltou, a palavra correta, ou mais correta, seria roubar, já que ninguém nunca o pegou usando de ameaças com os outros de condições sub-sobrenaturais, segunda retificação diz respeito ao "quase" acima, não foi 100% só porque se o tempo não era suficiente para ir e voltar, então o garoto voltava de mãos vazias, e isto não é êxito em um roubo. O caráter do rapaz, como deu pra notar muito mal exemplificado acima, não era fácil de moldar por educações sub-sobrenaturais, mas a religião evangélica que empregava a cabeça sã de seus pais o ajudaram a criar noção de bem e mal, mas, como o é para grande parte dos que como ele é, diga-se assim, religiosos, fazer o bem pode parecer simplesmente não fazer nada. A inteligência do rapaz fugia de tudo o mais que acontecia com ele, quer-se dizer, era medíocre, mediana de maneira tal que provavelmente passaria em um concurso e viveria como metade dos que vivem no estado. Há aqueles, e é por isto que o futuro do pretérito se encaixa nas frases anteriores, que seguem seus sonhos, e o garoto quis seguir carreira de músico, tem banda e tudo, e mesmo que hoje seja um senhor-rapaz, ainda toca aquelas músicas que badalam adolescentes e se fazem presentes em seriados de final de tarde, aqui ou no México. José não é muito famoso, no entanto.

O senhor-rapaz já se apercebera de que a natureza é sábia, justa, ou seja lá o nome que se queira dar a ela, alguns dizem simplesmente que ela é "equilibrada"; seja o que for, se existe um ladrão, haverá de criar-se um policial, se existe um problema, há de criar-se alguém para dele livrar-se neste mundo desde que as profissões só existem para solucionar este ou outro tipo de problema. Há os indivíduos que optando por trabalhar do lado do problema, seja tomando vantagem das brechas seja as aumentando ainda mais, encaram a solução como problema e como agora trata-se de um problema, também este a natureza há de "equilibrar", gerando uma profissão que arque com ele, claro que estamos nos referindo aos vilões. Se existe no mundo alguém com sobrenaturais poderes, haverá de aparecer um sobrenatural problema, simplesmente usando da filosofia barata da "balança" que a natureza insiste em fingir manter. José assim pensava a meses e passeava pela cidade de Campinas com tal pensamento fixo na massa cerebral.

O sobrenatural José pensava que, se usasse de seus dotes fantásticos, acabaria por induzir no plano real um movimento restaurador com a aparição simultânea de um arquiinimigo. Se era assim, pensava que melhor seria se ele fosse o mal, para que surgisse um movimento restaurador bom e que o bom o derrotaria e assim ficaria para manter a sociedade a salvo de qualquer problema de ordem menor. Pensou também que ele, José, não deveria morrer, para que o outro ainda tivesse seu problema lacrado e a natureza não teria motivos para balancear o que já estava balanceado. Isto tudo pensou porque não era um músico de sucesso, esta conclusão se pode facilmente tirar pensando que se o fosse seria ocupado demais para pensar ladainhas, e tudo isto se tratava de ladainhas, já que se tirou conclusões demais ante um problema que nem se sabe se realmente existirá.

José estava ali, ao meu lado. Tinha dobrado uma tira de ferro duro e depois, diante de um pedido meu de tensionar o ferro como se faz com sacolas plásticas até se romperem, esticou o ferro até se fragmentar em um estrutura que lembra vagamente um tablete de ciclete esticado até se romper, as duas toras de ferro oferecendo infinitos pequenos vértices. Depois de contar toda a sua história de maneira mais interessante do que acima foi relatado, pois é complicado para mim reproduzir uma história que me foi contada ontem, em que alguns detalhes já me faltam pela memória fraca, José saiu correndo pelo terreno e em alguns segundos, dois talvez, já tinha desaparecido da minha vista. Eu pensei que talvez ele não fosse um homossexual, mas que ele tinha dúvidas, ah, ele tinha.
...

15 de outubro de 2010

Eu e a Lua

Preso na praia na areia do mar
Uma fumaça que te faz lembrar
Presta atenção a onda vem sozinha
Arrasta e leva todo o carinho
Que pra noite me deixei guardar

É noite e é domingo
E você não está comigo
Dançar parado em cama fria
Vento soprado a noite em mar
Mais um cigarro e eu vou descansar

Braços trocados um beijo roubado
E eu ainda lembro o teu sorriso
Céu estrelado colado ao mar
Quero dançar de novo o teu sorriso

Preso na praia na areia do mar
Uma fumaça que me faz lembrar
Sem atenção a onda que vem do mar
Arrasta e leva todo o teu carinho

Braços trocados um beijo roubado
E eu ainda lembro o teu sorriso
Céu estrelado colado ao mar
Quero beijar de novo o teu sorriso

14 de outubro de 2010

The Spy

I'm a spy in the house of love
I know the dream, that you're dreamin' of
I know the word that you long to hear
I know your deepest, secret fear

I'm a spy in the house of love
I know the dream, that you're dreamin' of
I know the word that you long to hear
I know your deepest, secret fear
I know everything
Everything you do
Everywhere you go
Everyone you know

I'm a spy in the house of love
I know the dream, that you're dreamin' of
I know the word that you long to hear
I know your deepest, secret fear
I know your deepest, secret fear
I know your deepest, secret fear
I'm a spy, I can see
What you do
And I know

17 de setembro de 2010

Noite dos zumbis

Um certo dia saí para pensar um pouco sobre meus problemas isolado. Andava pela cidade vagarosamente até me deparar com uma taverna bastante interessante, que eu sempre via quando passava de carro por aquele trecho da cidade, mas esta foi a única vez que senti vontade de entrar naquele ambiente.

Havia um senhor por volta de seus quarenta anos usando uma flanela para limpar o balcão que o circundava em cento e oitenta graus, e os bancos altos convidavam os recém-chegados a sentar. Sentei. O senhor trajava uma calça jeans e uma camisa de botão verticalmente listrada e parecia ser um camarada bastante simpático. Quando me viu sentar, ele foi impelido a se aproximar e perguntar sobre os meus desejos. Lembro que por uns segundos eu pensei em como lá fora estava frio comparado com aquele recinto aromatizado. Sem contraste, pedi uma Heineken gelada.

Antes de precisar piscar duas vezes eu tinha um copo americano grande e uma garrafa de Heineken embranquecida, além de um senhor com olhos bonitos me fitando como se esperando que eu desabafasse.

-- O que foi, rapaz: mulher?

Sem conseguir segurar o meu pequeno sorriso amarelo de "na mosca" balancei a cabeça afirmativamente e comecei:

-- Nossa relação está confusa. Não estou seguro se ela gosta de mim, sabe? Gostaria que ela se expressasse mais, mas ao mesmo tempo gosto do jeito subentendido dela, é estranho. Eu não sei o que fazer.

O senhor tinha um semblante seguro e bigodes lisos e marrons. Tomou um copo cristalino com as mãos e o mudou de lugar. Eu havia simplesmente parado de falar. Aliás, eu não havia ingerido tanto álcool para soltar meus problemas assim de bandeja para um estranho que acabei de encontrar. Ele já não olhava para mim e notei que ele deixou o ouvido esquerdo na minha direção, como se esperasse a continuação da história, mas eu simplesmente calei. Foi ele quem quebrou o silêncio:

-- Acho que seu caso está resolvido rapaz, é só ansiedade sua! Permita-me contar uma história que aconteceu comigo e que desejo partilhar com alguém. Acredito que minha história possa ajudá-lo a repensar a sua de outra maneira, se não, pelo menos o distrairá -- O bigode sorriu em parceria com os olhos castanhos que brilhavam. Aquele senhor então puxou um banco e se sentou quase na minha frente, do outro lado do balcão. -- Você conhece a história de Natasha? -- Eu balancei negativamente a cabeça.

"Sou um viajante de muitas e muitas caminhadas. Nasci longe, onde não se come, só se bebe. Quando pequeno me mudava constantemente até que minha irmã mais velha me deixou em um vilarejo para cuidar de porcos. Um dia o casal que era dono do terreno faliu, então eu vaguei pelo centro da cidade, onde trabalhei com os pedreiros. Nesta época soou pelas ruas a presença de Natasha. Eu, assim como você, estava desinformado a respeito de tão ilustre personagem de nosso mundo. Afinal de contas: de quantos outros estamos igualmente desinformados?

Passado algum tempo, comecei a trabalhar nos bares. Esta taverna aqui não é a primeira, mas confesso que é uma das melhores que já trabalhei. A primeira, exatamente a primeira, me ofereceu tamanha experiência que nunca nada será semelhante ou se igualará.

Era uma noite boa, de muita festa: a folia corria solta e todos os hormônios saltitavam pela chegada de um ilustre cirurgião à cidade, um figurão que sempre investiu bastante na qualidade de vida desses pobres cidadães. Havia um moça muito bonita que andava frequentando este barzinho agradável onde jovens senhores da literatura se uniam para cantar à alegria e ao amor de mulheres e pátrias. Ela era paqueradora de mãos cheias. Embora ela não se vestisse com vulgaridade, a um trabalhador da casa atento não passaria uma moça bonita, ainda menos uma que sempre se apresentava com diferentes cavalheiros. Como você sabe, meu jovem, o mundo é livre, eu mesmo não iria julgar a felicidade de ninguém.

Havia dias em que ela se deixava só no balcão com os olhos distantes e eu, assim como fiz com você, fui puxar um bom assunto para alegrar as horas monótonas da rotina repetida. De perto a garota tinha todas as qualidades que um homem deseja. A voz, os olhos, a pele... Até mesmo a temperatura de suas mãos (homem sempre consegue tocar a mão da dama quando realmente deseja): era tudo perfeito. Minha querida esposa ainda não fazia parte da família e eu estava livre para me aventurar com moças alegres e encantadoras como aquela.

Não sei por qual acaso do destino eu me ausentei de minha função por breves vinte minutos na noite que eu costumo chamar a 'noite dos zumbis'. Quando retornei, avistei nas paredes homens caindo vagarosamente e, à medida que eu ia voltando a vista para os que estavam mais próximos, todos tombavam e caiam absortos no chão.

Vi, e disto não me esquecerei jamais enquanto minha cabeça não parar, aquela dama maravilhosa e perfumada parada próxima à saída longíncua, me olhava, ponderando, acho, sua vinda até mim. Ela deu alguns passos charmosos em minha direção e Giovana, a cozinheira, chamou de súbito o homem que serve às pessoas, este era eu na época, e a criatura celestial parou o progresso da viagem e resolveu partir do bar.

Esta cena nunca me saiu da cabeça, sabe? Posso dizer que é tão nítida minha impressão deste momento que depois, acessando minha memória, recordo um perfil rubro de coração na mão daquela desejada dama, enquanto caminhava até mim.

Aqueles homens se tornaram obcessivos fregueses do bar. Procuravam aquela moça, uns para lhe fazer feliz, outros para amaldiçoa-la. Todos tiveram seus corações tirados do peito por aquela dama. Todos! Exceto um... Eu fui o único que fui salvo pelo santo chamado da cozinheira Giovana - naquele momento, é claro, eu não me dei conta de quão santificado!
"

Depois de ouvir esta história, fiz algumas perguntas idiotas.

-- Esta dama da história era Natasha?

-- Sim, a própria. Onde ela passa deixa homens sem coração e corações sem corpos.

-- Por que ela faz isto?

-- Existem diversas especulações. Um amigo meu estava no bar naquela data e hoje vive sem coração algum. Sua idéia é que ela procura algum coração em especial, um coração grande o suficiente para saciar por completo sua sede por amor. Ele, como teve o coração roubado, não amará mais mulher alguma.

-- O que o senhor acha?

-- Acho que há diversas maneiras de tentar justificar a própria maldade...

Parei um pouco e percebi que estava realmente distraído com a história, meu problema parecia mais tranquilo e solvível. O senhor adivinhou:

-- Para você, meu jovem, eu diria que sofrer ou ser feliz são coisas que existem para te lembrar que você ainda tem um coração. Sem ele haveria apenas o vazio.

...

14 de setembro de 2010

Tarde nublada

Eu vi o sol, mas só o vi ontem. Ele sorria pra mim e dizia "hoje vai ser um bom dia."
E ontem nem foi tão bom assim.
Hoje ele se escondeu atrás de nuvens pesadas de chuva. Não me disse nada nem me fez esperar nada.
E hoje o dia está sereno e tranquilo.
Mas não é o dia que eu queria.
Senti gotas de chuva subindo por minhas calças, se esgueirando entre as dobras, tentando me esfriar.
Senti o vento frio no rosto, cortando a pele e rasgando a alma.
Me escondi entre paredes grossas e seguras mas a janela de vidro não me deixa esquecer,
chove lá fora!
Essa é uma semana de comemorações. No último post de nosso amigo Uljota o nosso querido Segundo Blog completou 100 postagens. Viva. Além disso nesse último domingo foi aniversário da preta e hoje é aniversário de meu pai.
É clima de festa no segundo blog.

13 de setembro de 2010

Fenômeno

Doutor des'que nasci que vivo adoentado:
Tenho um nariz um tanto avantajado.
A minha cara é larga pra chuchu,
o meu queixo até parece uma castanha de caju.
Nerusca de "ai lóve iou"...

É, a minha boca é grande demais
e sendo assim, eu sou muito infeliz,
Doutor, veja por quanto faz
uma intervenção em meu nariz.

E o doutor olhou pra mim, deu um sorriso e disse assim:
“Você precisa é tomar juízo, vá por mim.
Você é forte e tem muita saúde,
Você até parece um astro lá de 'roliúdi'...”

Acreditei no lero deste cientista de valor.
Meti o peito e fui fazer uma conquista de amor,
Logo a primeira que chamei de flor,
me deu um catiripapo e um contra-à-vapor...
Ai, ai, que dor, ai, ai...

Eu vi anunciado um tal de Seu Macário
que tem três filhas em estado precário.
Meti o peito e mudei prá lá
fui conhecer Maricota, Mariquinha e Maricá

É que o velho tem uma nota preta pra gastar,
e eu estou entusiasmado.
Desta vez eu vou ficar com aquela faca de água morna,
esterilizada e tudo o mais.

Mas seu Macário usou de franqueza:
“As minhas filhas não querem beleza,
Mas você com esta cara que me traz,
eu tenho visto gente feia, mas assim
Já é demais... Desguia Satanás. Que funeragem”

(Fenômeno - Moreira da silva)


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31 de agosto de 2010

A noite da carne

Andei por ruas escuras e desertas onde a multidão
dançava freneticamente
Corpos movendo-se numa coordenação aleatória
Mentes encontrando-se nas pupilas e vibrando juntas
através dos corpos alucinados
Idéias ressoando nos olhares psicóticos dos casais dançarinos


Andei no silêncio da noite onde o pio da coruja era abafado
pelo som doentio de músicas sem sentido
O ar gritando no ouvido ruídos insanos
A pressão explodindo ao redor, prendendo, aprisionando
A música convidando a enlouquecer


Andei por ruas sujas e fétidas
Onde o cheiro da podridão se misturava ao gosto suave
das nucas perfumadas
O ar impregnado com corpos chocando e espalhando feromônios
Sujeira sendo espalhadas pelos pés excitados e incontroláveis


Andei por ruas frias onde o calor dos corpos alheios fervia, queimava
Corpos sincronizando seus batimentos, dançando
a mesma música sem sequer estar a ouvi-la
Corpos tentando tornar-se um. Uno, com o cosmo
uno com a vida, uno entre si
Mentes tocando umas as outras, acariciando o ego, excitando


Andei por lugares onde cada um fazia sua própria música
e espalhava pelo ar
Onde os pés ritmados perdiam-se por entre bueiros podres
e dançavam entre a sujeira
Andei por lugares onde o tato era o único sentido usado,
os outros eram ignorados
Andei pelo meio da multidão enlouquecida e me misturei
Me contagiei e virei um ponto no meio daquelas ruas

27 de agosto de 2010

Motivações

"Cara, tu sai do Recife vem para cá sem ter falado com nenhum orientador e sem ter ninguém aqui que tu conheça - significa que com certeza tu NÃO estava satisfeito com a vida lá."
(A. -- em conversa informal)

Acho que algumas pessoas realmente pensam que eu resolvi mudar de vida por que estava insatisfeito com minha rotina no Recife. Eu mesmo sinto que meu discurso não soa convincente para a maioria das pessoas: eu estava muito bem em Recife, só queria vir por simples aritmética básica que, esta sim eu não posso negar, não gostei. Hoje graduado em física pela UFPE, o que me levou quatro anos e meio, e mestre também pela UFPE, o que me levou dois anos exatos - a defesa da dissertação foi no mesmo dia da colação de licenciado - sintia-me mais ou menos confortável naquele universo acadêmico onde eu tinha meu lugar e conhecia as pessoas já a, se deixei claro os números o leitor me acompanhou, seis anos e meio. A continha aritmética que não gostei foi somar, aos vinte e quatro anos que hoje tenho de vida, os próximos quatro anos que são comprometidos com o doutoramento. Isto significa que, em caso de fazer doutorado na UFPE - que é nível 7 na capes e tudo está tranquilo e preparado - eu saio de lá com vinte e oito anos e mais de dez anos sobre o mesmo teto universitário de sempre.

O objetivo da maioria das pessoas que faz graduação, pelo menos em física, e quer seguir a vida acadêmica lá no Recife, acredito, é ser professor da Universidade Federal de Pernambuco. O meu caso não é diferente. Quando for contratado, numa hipótese otimista, vou passar muito mais de dez anos sobre o mesmo teto. Por este objetivo eu quis sair um pouco, afinal de contas, como posso colaborar para a melhora e manutenção de um lugar do qual tudo que sei aprendi lá e tudo o que fazem me soa como natural?
...
Uma vez me disseram, e isto não me pareceu informação boba, que as mulheres tendem a querer engravidar na casa dos vinte. Seguindo alguns raciocínios (...) mulheres de trinta e poucos anos já são chamadas "titias" e por isto no final da década de seus vinte anos elas consideram com veemência ter ou não ter filhos em sua vida. Eu acho que a minha vida deve ter a alegria e simpatia que as crianças trazem, mas me sinto completamente leigo sobre cuidar das outras pessoas e, na verdade, sou leigo em diversos aspectos em como cuidar de mim. Filho único de mãe solteira, há muita coisa que me acostumei a ter em mãos com certa facilidade, dizendo de outra forma, eu mesmo não cuido de mim - como saberia cuidar de uma criança ou família? Existe a antigüíssima alternativa de se "aprender na tora", mas "prevenir é melhor que remediar". Nos Estados Unidos a cultura expulsa a criatura de casa quando esta tem dezoito anos e eu aqui, com vinte e quatro, não sei fazer nada que não use apenas ovo, água, pipoca ou macarrão instântaneo. Em uma carta para o meu primo, solicitei que ele pensasse um pouco no futuro dele - como acho que a todo conselho que se dá se deve refletir sobre si mesmo, aqui estou eu.

Evidentemente, pode-se resolver o problema acima alugando uma casa, não necessariamente indo para o outro lado do Brasil, mas a questão acadêmica é, e a ordem da exposição textual visa enfatizar este fato, tanto quanto este comentário, a motivação maior. Aqui a capes dá nível 7 ao Instituto de Física e meu currículo não sai pior do que sairia na UFPE - existe uma possibilidade, e esta eu fiquei sabendo depois, de meu bolso sair mais cheinho, mas depende de orientador e outras questões mais complicadas. O problema financeiro não é a preocupação, já que vim para um lugar onde se gasta muito mais que em Recife.

Existem diversos problemas a resolver: não estou com moradia garantida e não tenho orientador, ou seja, não tenho o que pesquisar e meu doutorado, por este motivo, ainda não começou de fato. Estas coisas se resolverão nas próximas semanas, claro, se eu me mover e tomar contas das rédeas da minha própria vida...

Estou aqui não por que quero a liberdade e a privacidade plenas, se bem que acabarei experimentando, mas por que mais cedo ou mais tarde algo pode vir a precisar de uma resposta rápida e tenho em mim que esta experiência pode me ajudar a responder devidamente.

26 de agosto de 2010

Saber

sei de nada, só sei que eu num faço questão de saber de nada
por que quem nada sabe não sabe que sabe de nada
e ainda assim vive feliz com isso

25 de agosto de 2010

Ontem à noite

Ontem eu vi a Lua.
Estava cercada pelas copas das árvores
e por um telhado de amianto.
Eram seis horas, a hora do crepúsculo e da saudade.
A Lua estava cheia e bela.
A Lua estava cheia e solitária no céu nublado.

24 de agosto de 2010

Tagarelando

No camarim do segundo blog encontrei algumas obras que Eu deixou em rascunho, poemas interminados e cheios de um sentimento de fazer poesia, não sei se por amor à poesia ou ao verdadeiro objeto alvo daqueles versos. Senti falta, enquanto li alguns dos poucos versos escritos pelo companheiro de blog, de mim. Não que eu não esteja comigo mesmo tempo suficiente para que haja possibilidade de sentir falta de mim mesmo, o que poderia ser diretamente interpretado das palavras anteriores, mas senti falta de minhas frases narradas ou pensadas no segundo blog como outrora quando minha intenção era mais distribuidamente alegre e não objetiva. Gostando de escrever pelo simples gosto de escrever, de alinhar idéias e às vezes tentar ser o máximo não-óbvio em poucas ou muitas palavras, me encontro cada vez mais vezes sem palavras certas para escrever despreocupadamente.

Falta de "falta do que fazer", pensei eu. Talvez, respondi em seguida. Mas o fato de você ter ocupações não deveria deixar seus poucos hobbyes para trás. Tudo bem, o tempo é escasso até mesmo para os hobbyes, imagine para as tarefas obrigatórias? Mas a verdade é que nunca acreditei quando companheiros de outros ou desse blog disseram que não havia tempo disponível para escrever mais. Na verdade sempre acreditei, e neste sempre se acrescente o presente do indicativo, que as pessoas param de escrever nos seus blogs porque perdem a vontade. Esta (vontade) está ligada a uma motivação particular que, segundo meu pensamento mais recente, pode não durar para sempre, aliás, não dura quando o principal interesse é regido pelo tempo. Como exemplo concreto posso citar um rápido debate que eu e Eu tivemos hoje a tarde no google talk sobre um contador de visitas para o nosso blog: traria uma motivação temporal da qual pode vir a ser uma desmotivação temporal...

Resumidamente, posso dizer que há tempo para continuar escrevendo, mas o que falta realmente é assunto para tratar da maneira usual, isto é, da maneira que estou acostumado a expor minhas idéias. Assuntos não faltam, já que passo por mudanças e estou ainda no meio do turbilhão das possibilidades de respostas a estas alterações de rotina, mas parece que a anarquia da poeira alta não dá nitidez suficiente para ser claro e objetivo na exposição das idéias que chegam, muitas vezes à cavalgadas, muitas vezes no casco da tartaruga. Logo, o problema poderia ser a preocupação de expor fraquezas e possíveis escolhas erradas no decorrer do caminho, porque mudanças trazem muitos aprendizados e estes incluem as tentativas e erros. Se fosse este o caso, se tenderia a escrever por versos de múltiplas interpretações e idéias incompletas, com o problema geral não particularizado para não ser ridicularizado, ou simplismente não se escreveria, o que me parece ser mais, ou muito mais, comum - este texto seria, sob esta hipótese, um negação de tudo isto.

Naturalmente, pensar na origem da sua própria vontade de fazer ou deixar de fazer algo não é fácil, podendo beirar o impossível, mas eu costumo pensar que mesmo as coisas impossíveis devem ser tentadas de vez em quando, se devidamente se verificou que as consequências são reversíveis.

Eu estou aqui, visitando meu próprio blog com regularidade e em diversos computadores (o que possivelmente renderia uma falsa leitura para um hipotético contator de visitas) da faculdade, onde estou passando a maior parte das minhas horas diárias. Me preparo para voltar a escrever minhas historinhas como um aluado no mundo das idéias, já que somos infelizmente ensinados a evitar se comportar como aluados no mundo das pessoas. A lua, lá no topo da abóbada celeste, está cheia e belíssima, e um aluado hoje estaria muito mais feliz que uma criatura genérica...

Abraço para todos e depois eu volto com outro texto destes.

17 de agosto de 2010

Noite nossa

A Lua novamente sobe ao céu
Caminhamos ao encontro noturno
Todos juntos, novamente

Vivemos para cantar, para lembrar, para amar
Estrelas que nós víamos já não existem mais
Os dias que passaram não voltarão
As trilhas que construímos,
Não usaremos jamais

Vem comigo, é domingo, vamos comemorar
Vem comigo hoje é festa
Hoje a festa é só nossa
Vem, já é noite e a Lua no céu nos espera ao encontro marcado

Amo a noite, eu te amo.
Amo o som da cachoeira.
Veja as pedras, são tão belas
Veja o fim, está tão longe
Vejo amor! É você!

29 de julho de 2010

Girl

The beatles

Is there anybody going to listen to my story
All about the girl who came to stay?
She's the kind of girl you want so much
It makes you sorry
Still you don't regret a single day.
Ah girl
Girl

When I think of all the times I've tried so hard to leave her
She will turn to me and start to cry;
And she promises the earth to me
And I believe her
After all this time I don't know why
Ah girl
Girl

She's the kind of girl who puts you down
When friends are there, you feel a fool.
When you say she's looking good
She acts as if it's understood.
She's cool, ooh, ooh, ooh,
Girl
Girl

Was she told when she was young that pain
Would lead to pleasure?
Did she understand it when they said
That a man must break his back to earn
His day of leisure?
Will she still believe it when he's dead?
Ah girl
Girl

20 de julho de 2010

Tempo

Brisa. Sol. O céu é azul.
Som e cheiro. Toque e tato,
uma farpa de madeira no dedo.
Suba a bordo, o barco vai partir.


Fúria, fogo, flor,
suave e doce.
Inspire.
Expire.

A passagem se deu às onze horas.
Era noite e a Lua se escondeu.
Era noite e estava escuro.
Suba a bordo, o barco vai partir.

Amor.
Isso não existe.
O que?
Amor.

Tranquilidade é ver um furacão pela TV.
A fumaça entra, aquece, queima.
Essa é a última chamada,
suba a bordo, o barco vai partir.

5 de julho de 2010

Moeda

Existem dois¹ tipos de pessoas no mundo: aquelas que confundem as coisas e as outras, que não.

Eu definitivamente confundo tudo.


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1. Não se assuste com o número. Ele é uma tentativa, em vão, de não te confundir.
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12 de junho de 2010

Batalha no Monte Negro

Meu roteiro de anime, hahah
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Um senhor de barba branca estacionou no alto do Monte Negro e olhou atenciosamente cada detalhe da paisagens florestal que lhe era oferecida. Cada brecha que existe entre as folhas foi cuidadosamente analizada e o senhor já sabia o que fazer:
-- Eu já o encontrei, Milleto, porque tenta se ocultar na floresta?
Milleto, então, com a espada sagrada do Dragão Zarolho empunhada, aguardou um instante, respirou 2000 cm³ de ar puro da floresta e conjurou seu jutsu:
-- Mordida da serpente persa!
Como se respondendo ao chamado do ninja, uma onda de terra se formou devastando árvores e destruindo relevos. Ao adquirir a forma final de uma cobra gigante, a coluna de terra se moveu com astúcia na direção do velho de barba branca. Aquele senhor, cuja barba amarelava nas bordas, saltou rapidamente para desviar do choque inevitável entre os dois blocos de terra dura. Com o dedo indicador, reservando sua visão ímpar, apontou na direção de Milleto e lançou seu contra-ataque:
-- Tiro do Leopardo Branco!
Um brilhante e reluzente raio branco saiu do indicador do velho e seguiu em linha reta na direção de Milleto, e era tão veloz, que o atingiu em cheio. Devo citar que, quando alcança seu inimigo, o Tiro do Leopardo Branco estrala o som de mil tiros de espingarda enferrujada simultaneamente. Há relatos de sobreviventes a este magnifíco golpe, mas as testemunhas sempre perdem a audição.
"O velho é mesmo forte!", sussurra Milleto para si próprio, à distância. Aquela não haveria de ser uma batalha comum. Era a especialidade de Milleto usar espelhos e ilusões para confundir o inimigo, mas o velho já estava informado quanto a isto, de maneira que o barbado se manteve imóvel no cume depois de cair na poeira. Vislumbrava qualquer movimento entre grãos de areia - "talvez o garoto tenha se escondido em baixo da terra" - sua visão não tinha desvantagens na poeira.
Milleto estava muito bem preparado, afinal de contas, sua única missão era derrubar o grande e lendário Leopardo Branco das Montanhas do Sul. Trazia alguns de seus principais truques e, o melhor, seu orgulho completamente cheio depois do sucesso ao roubar a espada do Dragão Zarolho. Tinha a confiança e a velocidade necessárias para a vitória.
-- Eu não gostaria de me demorar aqui, menino -- Diz o velho quase que para si -- Mas sinceramente não acredito que esta vitória possa ser assim tão fácil, uma vez que você deve ter vindo preparado, não é? Astuto Milleto da tribo do Norte...
-- Antenor! -- Surge inesperadamente Milleto na base do Monte Negro -- Entregue-se e minha missão será cumprida, não é preciso haver mortes.
-- Não seja estúpido garoto! -- O velho surpreendido abre a palma da mão em direção ao missionário e dispara um raio neutro de energia branca. Com o choque do golpe sobe ainda mais poeira e o velho não pôde conferir se acertou, uma vez que sua mão estava na frente.
Derrepente, aparece Milleto com a lâmina de uma espada estranha bem diante de seus olhos, quase lhe dividindo o pescoço. "Deus, como eu não vi?", divaga o velho, enquanto atrás havia outro Milleto:
-- Presta atenção velhote, eu estou aqui. -- Antenor é, então, cortado ao meio pela lâmina de uma espada zarolha. O sangue se espalha vagarosamente enquanto desce o Monte Negro e ainda é visto bem vermelho na brilho cristalino da espada de Milleto. "Os velhos tem que dar espaço para os novos. Você era um cara forte, mas um dia alguém tinha que derrotá-lo, é uma pena ter que ser eu, mas saiba que você era muito admirado", disse Milleto em voz de velório. Levantou o corpo morto, desceu o Monte Negro e se orienta para o Cume do Norte, onde vive a sua tribo.
Enquanto isto, em meio à poeira, um velho de barbas brancas ligeiramente amareladas se oculta e observa o ninja voltando à casa com um corpo falso no ombro: "Quando voltar aqui, criança, estarei melhor preparado para um menino com tantos truques" sussura Antenor para si "Mas agora não tenho tempo para brincar com você".
-- Acontece que eu nem sai daqui -- Diz o verdadeiro Milleto, atrás do velho -- Ora ora... Parece mesmo natural que você também tenha ficado surdo depois de usar tanto um golpe daqueles.
-- Sabe porque eu ganhei esta batalha, menino?
Milleto, sem poder escutar direito, se vira e vê outra imagem borrada do velho na poeira. Antenor continua:

-- Porque eu tenho o terreno sempre preparado. A poeira que está respirando deve estar envenenando cada célula de teu corpo agora, é um dos motivos para o nome do Monte. Antes de mim, o chamavam Monte das Pitangas, mas eu acabei com as pitangas, como pode bem ver... Agora sua morte representa centenas de homens como você aqui, chegando em alguns dias. Tenho que me preparar, mas por hora, não tenho tempo.
-- Ninguém nunca sai vivo do Monte Negro, depois que entra.

19 de maio de 2010

Cenário

A penumbra boiolava.

Havia um trem quebrado que demarcava uma listra, uma grande listra, mas ela não podia ser vista da lua. Quadrúpedes saltavam de um lado a outro simulando pânico, o pânico dos ruminantes. Não sei. Tinha um boné verde-vermelho que flutuava no ar na meia altura do muro cinza, mas nunca ficava alto demais nem alcança o chão. Era perturbador. Ele quase tocava o chão algumas vezes, mas eis que levantava vôo novamente.

Um delicioso molho de tomate vinha da esquerda, misturando-se com uma rosinha tímida da Tailândia que chegava da direita, tudo em cheiro. Era possível perfeitamente simular o perfume da sopa quente que Tiradentes tomou aos quatro anos e odiou. Para tanto se devia localizar mais à esquerda que à direira. Na Sombra da nuvem que soprava si mesma, a terra cheirava molhada.

Um sino bem longe gritava "Madalena!" e umas ovelhas transparentes podiam soltar sons de asas de insetos - Era bizarro. Navarro era representado por uma estatueta verde que lembrava um anão de jardim, esta podia grunir. A mistura sonora ecoava no trem e fazia a penumbra dançar. Requebrando animada, a penumbra fazia muito barulho, quebrava o trem, chamava tomates e rosas e ovelhas espelhadas.

3 de maio de 2010

só pra constar

Mais uma noite sem dormir.

29 de abril de 2010

Convergir

Essa semana, ontem, eu não dormir direito.
Virei na cama durante horas e a cada hora que passava eu olhava pela fresta da janela e dizia a mim mesmo "falta pouco tempo pro sol nascer, daqui a pouco eu levanto." Meu celular descarregou no meio da noite.
E assim foi a noite inteira.
Minha mãe costumava dizer para eu ler quando não estivesse com sono, que ajudava o sono a vir. Como se ele fosse uma locomotiva precisando de carvão (não queimem seus livros, hã!) Isso quando eu era criança. Na verdade ela ainda diz isso.
Bem, durante a noite eu pensei em diversas coisas, como qualquer mente ociosa: uma garota branquinha interessante, com uma risada divertida; uma outra garota, morena, baixinha, sexy e uma terceira garota, também morena e baixinha, tímida. Por pouco a noite se resumia a isso mas, então, vieram outras coisas, música na verdade.
Ah, vai ter um show da banda de meu irmão, mês que vem, no armazém 14.
Falando em música, hoje eu passei minha manhã tocando guitarra. Uma música, com uma pegada punk (três notas, hehe) que eu estou fazendo.
Apesar disso tudo eu acordei meio deprimido, acho que a culpa é de ontem quando eu estava razoavelmente mal. A culpa de tudo que acontece deve ser de ontem. Talvez, se não existisse o "ontem" o mundo seria um lugar melhor, quem sabe.
Uma hora, quando eu estiver mais motivado, eu falo mais sobre o ontem.

Eu estou com um pouco de sono, afinal, eu não tenho dormido muito bem ultimamente.

Naufrágio

Amigo altamente antenado
batia, brabo, bamboo branco
causando certas críticas com certeza.

Dependendo do desejo da dama,
ela emanava elogios e envolvimento
fogosa, fazia fulgurar fregueses francos.

Gabriel, gaguejando, golpeava grandemente
hesitava, humildemente, há horas
intimidado, ia iluminando irreversivelmente

Joana, já jogando jóias japonesas
lindamente levava laranjas lá
manuseando meninos mimados

Nada não normal neste navio
o orador olhava orgulhoso os outros
porque procurava por pessoas penetras.

"Que queime quanto quizer"
riram roucos ruins rapazes
sozinhos, sombrios, só sentiam sons

Talvez tudo terminasse tarde...
um universitário uniu utensílios
verificando vexame, vendo viajantes voarem.

Xingaram xícaras, xaropes, xilofones, xadrezes
zanguaram... Zona zonza! ... Zarpavam ziguezagueando

20 de abril de 2010

Amarelo

Eu subi no ônibus um pouco atrasado, mas não poderia fazer mais nada: são duas horas até chegar na faculdade, todos os dias. Atrasei aqui, chego atrasado lá. Como de costume, sentei perto da porta traseira e mantive a atenção nas pessoas que entravam depois de mim. Era manhã, mas a água fria do chuveiro já tinha me despertado.
Nos arredores de Olinda, cerca de trinta minutos de viagem, sobe aquela menina. Moça magra e branquinha, da cor de leite desnatado e ligeiramente estragado, efeito dos raios solares. Ela mantinha o cabelo pintado de loiro, que combinava bastante com ela (aliás), e se por ventura o deixasse solto, uma sutil faixa negra longitunal corria sobre sua cabeça. Costumava vestir calça jeans e uma camisa de tecido liso e sedoso, o cabelo preso ia até um quarto das costas e o sorriso esbanjava metais. Neste dia nada foi diferente. Ela sentou do outro lado do ônibus, uma fileira atrás da minha, onde podia ficar olhando pela janela.
Não menos de dois anos atrás eu a conheci. Sabe aquela gatinha do curso pré-vestibular que você sempre viu e nunca fez nada? Todos os dias você divide o ônibus com ela quando largam juntos, você é de exatas e ela de saúde, mas você nunca tomou coragem de ir lá trocar palavras. Eu lembro que tive um dia onde as coisas deram altamente errado e eu estava com os nervos trocados, ai resolvi falar com ela (energia transbordando e perna tremendo).
Ao som da minha pergunta (algo do tipo "você faz o pre, né?") ela se vira e sorri abertamente e... bem, a única reação possível pra mim foi sorrir na mesma medida: bem largo! A conversa inteira seguiu com um sorriso gigante no rosto, porque ela sorrindo era único na minha vida. Nesta época os dentes dela estavam perfeitos, nada prateado.
Depois disto tentei me aproximar, mas descobri que ela tinha namorado, ai fiquei cada vez mais "adiando" qualquer conversa relativa ao meu interesse e acabei, infelismente, me transformando em mais um amiguinho. Como pré-vestibulares tem fim, um dia acabou e nunca mais a vi com a mesma frequência.
Durante um ou dois anos não compartilhamos a mesma linha. Agora ela entra no ônibus e, quando me vê, acena com um sorriso amarelo e diz um "oi" ou um "tudo bom?", que eu retribuo quase sempre imitando a mesma frase. Ela passa, senta e pensa na vida dela junto à janela. Eu, tolo, repasso sempre toda esta história.

15 de janeiro de 2010

O homem de algum lugar

Ele era baixo, balançando os braços suavemente. Pra um lado. Pra o outro. Seus cabelos pendiam ao longo de seu corpo, largados, sem vida. Seus olhos se arrastavam, carregando o peso da pálpebra numa tentativa quase inútil de olhar para algum lugar. Eles não aguentariam mais.
A face do homem, amarrotada, suja, barbada não parecia com qualquer rosto que já houvesse sido visto por um pintor de região alguma. Mas o dinheiro. O dinheiro marcando o lado esquerdo da roupa. Aquilo era o mesmo dollar em qualquer lugar do mundo.
Ele dormiu alguns segundos, afastou-se da parede e correu.

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Poderia isto ser um plágio?

11 de janeiro de 2010

Conexão

Minha mente é um vazio.
Talvez seja errado dizer isso,
minha mente é um vazio,
mas quem se importa.
Minha mente é um vazio;
talvez eu devesse dizer
minha mente está vazia
mas, desde quando mentes são potes?

Minha mente está vazia,
talvez esteja melhor.
Minha mente está vazia
mas, isso já é mentira!
Minha mente estar vazia
como poderia, se a encho para depois esvaziar neste papel sujo?
Minha mente estar vazia
esta agora é a mentira.

Minha vida é uma mentira.
Agora sim, digo verdades.
Um amor de verdade,
uma mentira para toda a vida.
Já cansei de escrever.
Outra verdade.

6 de janeiro de 2010

poesia

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Acho que eu entendo o Carlos.


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