30 de novembro de 2011

Adágio

...
-Prólogo-

Acesse este link e clique em 72.

-Capítulo 1-

Ela não conseguia dormir.
Pensava no dia, como tinha sido;
Pensava no ontem, o que estava errado;
Pensava no amanhã, nas tarefas urgentes.

Pensava também no namorado;
Pensava na família, no afilhado
Que quase nunca tinha consigo,
Mas havia algo na sua mente.

Estava, enfim, perturbada.
Tocavam gotas no fundo da pia
Por isto, a coitada não dormia
Permanecendo pensando acordada.

-Capítulo 2-

Seu salão era o de cima
Uma estante, um armário gigante
Uma mesa, uma escrivaninha
E um terno sempre elegante.

O relógio corria mais rápido
Do teto, acolhia todo o ambiente
Com um som bastante envolvente
Mas o tic-tac deixava-o pálido

Era o silêncio que havia no salão
Som nenhum, outro, entrava.
Um medo imenso de solidão
E do tempo que o relógio contava.

-Capítulo 3-

Na sala branca, com pessoas brancas
Deitado sobre o leito de morte
Pensava a respeito de suas sortes
E de como costumavam ser fracas.

Havia uma máquina no canto
Mostrando o batimento de seu peito
Parecia que tudo estava direito
No entanto, sentiu um enorme desalento

Levantou-se do leito, pegou um manto.
De branco, cruzou o corredor do hospital
Não dava para ver se estava mal,
Mas no final havia um anjo o esperando.
...

25 de outubro de 2011

A príncipa adoecida

...
Era uma vez, num reinado distante, um rei. Para comemorar a notícia de que teria um filho, o rei Optin convidou todos os nobres do reino para um banquete; receberia congratulações de toda espécie e era uma oportunidade de fazer um grande evento, afinal de contas, os nobres vivem destas coisas.

Convidou desde os três reis vizinhos até a rainha das fadas, contanto que só houvessem nobres, todos estavam convidados. Convidou também a velha guardiã das realezas divinas, Gotiha, que era a única nobre que não morria, devido a feitiçarias diversas que auto-aplicava diariamente. Este convite, por si só, representava a grandiosidade do evento, pois desde que o rei Optin nasceu não se via Gotiha no reino.

Acontece que Gotiha nutria das mais tenebrosas máguas pela família real. Esperara durante todos estes anos para ter uma oportunidade de os amaldiçoar. Agora tinha finalmente sua oportunidade.

O rei queria que seu filho fosse homem, para reinar absolutamente sobre todo o reino (e, quem sabe, mais), mas Gotiha iria se certificar que fosse uma menina. Ao invés de um príncipe, uma princesa, e a criança ficou conhecida como a príncipa Icéra Optin, sendo chamada de príncipa devido ao tratamento de seu pai, que nunca aceitou que seu único filho fosse uma mulher.

Eis a maldição de Gotiha sobre Icéra: quando esta fosse pedida em casamento (os nobres muitas vezes já nasciam com casamento marcado, para fortalecer o nome da família com uniões entre famílias nobres), a príncipa adoeceria de uma doença devastadora, portanto mortal, que não seria a causa de sua morte, mas a de todos que ousassem aproximar-se dela. Como todo feitiço mencionado nesta época, havia uma maneira de quebrá-lo, e Gotiha não guardou segredo: a príncipa Icéra deve conhecer o verdadeiro amor nos braços de um plebeu, só assim ficaria sã pelo resto de sua vida, não mais adoecendo.

Aqui chega a parte que me parte o coração, pois não sei o fim da história exatamente. O historiador Cardior de Pauli diz que a princesa nunca marcou casamento, portanto nunca adoeceu. Segundo esta versão ela cresceu e lutou nas duas guerras que seguiriam saindo sempre vitoriosa, morreu em batalha com uma flechada sobre seu peito esquerdo. Já o historiador Mheglireu Pane, com seu estudo detalhado das famílias da época, conta que quando completou 21 anos (ou seja, já velha para marcar o casamento), Icéra foi pedida em casamento por um príncipe estrangeiro (que não conhecia a lenda), portanto adoeceu e levou o reino às ruínas, com alto índice de mortes entre os nobres e quem mais se aproximasse. Mheglireu traduz um documento da época, supostamente escrito pelo nobre Liasiv Eroateria, tesoureiro real,

"(...) Naqueles dias, a tristeza já havia tomado a todos no reino (...), seriam os últimos dias do rei Omcras Optin (...). À tarde, foi anunciada a chegada de Peumolot Ortraz (...), e todo o reino estava alerta para o que poderia ser o dia da salvação (...). No entanto, o pobre Ortraz foi recusado pela princesa Icéra Optin (...), pois ela se negava a casar-se com um artesão pobre e imundo. Então Nido Tontapor (...) cessará sua busca através dos reinos e a família real se entregará a seu fim. (...)"
...

14 de outubro de 2011

Luzes

Passado quase um minuto esperando no sofá, ao som de latidos, passar sua dor no joelho, Juliana finalmente se levantou para ir ao quarto ligar a luz que dissiparia de vez a escuridão na sua casa. Já passara a ouvir o bater de seu coração, forçando sangue para o resto de seu corpo, como se este se recusasse a aceitar, quando escuta o cantar grave de um pássaro mensageiro no justo momento de seus primeiros passos - imediatamente, por puro instinto, pensou: vou morrer!. Com os nervos à flor da pele, desistiu da jornada no escuro da própria casa e se retirou, deixando atrás de si a porta escancarada.

Se as criaturas da noite adoram e se fortalecem com a luz de uma maravilhosa lua cheia, nenhuma delas estava disposta a um passeio naquela noite. Não havia lua, não havia luz natural. Casas exibiam suas varandas acesas, outras não, como uma sequência sortida de luzes nas vizinhanças. Mas, definitivamente, o mais notável era o esforço daquele par de postes que insistiam bravamente em enviar mensagens de alerta, em código morse; conversavam entre si, cada qual em seu lado da rua, um um pouco antes e o outro um tanto depois da casa de Juliana, a maioria dos demais postes adormecia, de folga.

Quando voltava o olhar para sua casa, Juliana sentia o peso daquela presença alheia e uma imensa estranheza com o próprio lar. Quando olhava ao redor, percebia os dançantes arbustos e árvores que felicitavam sua vulnerabilidade. Às vezes, um ou outro conjunto de folhas se uniam para formar rostos e silhuetas ameaçadoras, outras vezes, o espaço vazio entre as folhas formavam olhos e janelas por onde se busca sempre ver o que está além, como se esperasse algo ou alguém surgindo de lá.

Alguém, "algum vizinho acordado a esta hora?", manda o cachorro se calar, chiando, sussurando. De onde? Desta, daquela, de que casa? Não havia ninguém ali, exceto ela girando e temendo a madrugada, como se certa de que algo aconteceria, certa de que nada podia fazer, exceto, talvez, esperar sua hora. Volta a escutar o cantar do pássaro da morte, "deve ser uma coruja", vinda de sua casa, onde aquela presença lhe esperava - vem, menina, entra; aqui você vai poder dormir em paz, conosco será bem cuidada, se entrega - por que a presença se considerava no plural era a questão que parecia mais terrível da mente de Juliana.

Depois de algum tempo sob o céu sem lua, faziam dois ou três minutos que o poste havia desligado, Juliana nota que as estrelas estavam mais brilhantes do que custumava lembrar. A vastidão do universo nos dá ainda maior medo, de lá pode vir de tudo a qualquer hora, e não há muito o que se fazer. Parece, no entanto, que estar de baixo de telhas nos protege de alguma maneira, ao menos na nossa mente nos sentimos seguros. Ali, entretanto, com todos aqueles olhos cintilantes lhe observando, Juliana pensou que eram deuses guardando-a "de todo o mal, amém" e se sentiu segura. Sobrara um último cachorro latindo distante, a algumas ruas atrás, e a "coruja" parecia ter se acalmado, pois se passaram dez ou quinze minutos em silêncio.

A harmonia parecia estar se completando, o medo estava se dissipando e Juliana estava fazendo as pazes com a natureza, tentando até recordar qual a última vez que contemplou de maneira tão profunda todos aqueles fenômenos naturais que passavam já despercebidos nas noites dela - talvez tivera sido com um antigo namorado, quando ele a levou à praia de bicicleta, noite linda e amor juvenil. Já estava se tornando muito estúpido ficar parada na rua com a porta da casa aberta, e os deuses de alguma maneira espantaram aquela forte presença. "Daqui a pouco o sol vai nascer".

Foi aí que ela ouviu pessoas chegando, riam, gargalhavam, escarniavam em voz alta. Talvez o sono não a tivesse deixado perceber o quão próximos elas estavam (ou talvez elas só se fizeram notar depois que dobraram a esquina) e Juliana notou que eram todos homem, bêbados ridículos errando e atacando tudo o que vinham com zombarias sem fim. O medo tomou-lhe outra vez. Não fazia sentido nenhum está de bobeira no meio da rua podendo ser atacada a qualquer hora por pessoas reais, entidades que realmente existem; se sentiu extremamente infantil por ter saído de casa.

Pra encerrar com chave de ouro, "agora é tarde madame", quando ela dá seu primeiro passo pra se salvar, o poste apaga - quando foi que a lâmpada tinha acendido? - e não deu outra: ela travou, ali, no escuro do poste. Não tinha como se mover: era pressão demais. Se saísse dali eles iriam notar que ela estava com medo e poderiam fazer qualquer coisa, qualquer maldade. Mais uma vez ela se entregou à sorte, mas nem tem como descrever o que ela pensou, a mente tava em branco, esperando. Ali a ameaça era real.

Eles eram oito.
Cinco dos quais estavam de calça djeans.
Três estavam de bermuda.
Dois estavam de boné, o mais tagarela inclusive.
O mais bonito olhava para ela, desde que o poste se apagou, talvez querendo distinguir as curvas no rosto dela, talvez perguntando a si mesmo se deveria aproveitar esta oportunidade para abordá-la, ou daria mais alguns passos.
Eles vinham chegando, andando na direção dela.
"Meu Deus! A porta de casa está aberta!".
Eles vinham abaixando a voz, observando aquela mulher e se calando um a um, o tagarela por último terminou com uma pergunta vazia, parecia até retórica.
Este era o momento em que eles cruzariam com ela, talvez a metade deles faria um movimento e a outra metade outro, encurralando-a. Estavam quase frente a frente, ela observava que um deles estava fumando, tinha aspecto mais velho e sério, nada tinha falado. Ele olhava para ela com rigidez e não desviava o olhar. Ela percebeu que ele ia falar, ele ia dar voz de assalto, sabe-se lá o quê.
Ligou: o poste foi mais rápido!
Foi impressionante!
Foi indescritível aquela sensação.
Por um instante todos os rostos se descobriam completamente iluminados pela luz daquele poste (que parecia responder a passos próximos): o do boné vermelho, o bonito (que nem era tão bonito assim), o da calça xadrez, o de camisa amarela, o tagarela (que era o mais bonitinho), um cara que não dava pra ver, estava atrás dos outros, o baixinho barrigudo e o tenebroso fumante, que não se sentiu nem um pouco intimidado pela luz e prosseguiu com o gesto labial:
-- Boa noite!
A que todos os amigos repetiram a saudação. E, por fim, também ela. O tenebroso fumante se tornou o charmoso fumante, depois que passou. "Bom dia seria mais apropriado", o sol nasceria daqui a uns quarenta e cinco minutos. Sem querer demonstrar que estava apavorada de medo, ela se segurou parada no poste até o bando tomar mais distância - imensurável dizer qual com o sono que ela tinha ali.

Ouviu a gargalhada que o barrigudo deu, "hahaha! Vocês morreram de medo", "É claro, uma pessoa escondida no escuro, parecia que tava esperando pra mostrar um revólver", "Eu nem tinha notado, vocês foram ficando tensos eu parei de falar...", "Todo mundo sabe que tu é lerdo", "Rapaz, com isto o álcool todo foi embora". As vozes iam diminuindo...

Ela se recompôs de tamanho susto. Poderia ter morrido, sido assaltada, pra não contar coisas piores, estuprada, sabe-se lá! Com as pernas tremendo conseguiu vencer a inércia do corpo e atravessou a rua, entrando em casa e acendendo não só a lâmpada do quarto, também a da cozinha e a do corredor que dá para a área de serviço, iluminando a mesa central da sala com quatro focos diferentes de luz. Voltou à porta de casa, passou a chave dando duas rápidas e resolutas voltas, e afundou na cama, hoje não importa a conta de luz.
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6 de outubro de 2011

Tenho que parar de desobedecer as regras e seguir as leis? Cabe ao homem fazer as leis ou são as leis que devem moldar o homem?

2 de setembro de 2011

Ausência

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Ai, que saudade dela! Um ano atrás ela estava aqui entre nós, brincando, comendo, fazendo-nos rir com seu jeitinho desconcertante e sua ironia assassina. Ela se dizia poetiza e saia escrevendo sobre tudo e todos, desde o pássaro no jardim, que viu assim que abriu a porta de casa, desde a discussão de motoristas de trânsito sobre a culpa do taxista. Ela também queria conversar filosofias, mas isto nunca vingava muito, a gente não tem muita formação, não entende estas palavras complexas que os poetas e cientistas usam. Ela tinha me escrito uns poeminhas, vou pegar. Puxa, ela escreve muito bem mesmo! Uau, a forma de ver a situação é completamente genial! Ela era muito boa mesmo nisto!
E assim, mais um é reconhecido depois de morto.
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5 de agosto de 2011

no ônibus

meu amoôôô, o seu vencimento expirôôôôô
e se você não renovar eu vou ter que te multar

...parte perdida...

as histórias escritas nas esquinas
as figuras feitas a tinta
sujaram o calçadão
uôôôôô
meu amoôôô
as entradas e a pipoca divididas
levaram o meu coração

2 de agosto de 2011

Namorar

...
Era uma vez uma turma bem legal que se reunia para jogar vôlei. Uma menina, certa vez, contou às amigas o quanto seu namorado era impressionante, mas a verdade é que ela não estava curtindo muito namorar sério. Uma amiga se apaixonou pelo namorado, mas manteve segredo até o fim do relacionamento. Depois, naturalmente, deu bola pro cara. Ele, por sua vez, ficou completamente estranho, "ficar com a amiga da ex?", mas no final ele acabou ficando com ela e eles namoram até hoje. Quantos anos já fazem?
...

12 de julho de 2011

Ladeira da razão

essa é uma versão da música 'ladeira da razão' de Guilherme de Aquino







plantei um trigo muito doido e tal
para mim voá é mó legal
inda mais se o destino for
ficar muito doido

saio da ladeira da razão
pra encher melhor o meu pulmão
e senti a brisa é tão bom
pra alegrar o tom

muita gente na verdade quer
uma coisinha pra ficar lelé
só que se os homi chegar
é melhor dar no pé

vem comigo viajar também
e enrolar o trigo desse trem
só cuidado pra não se queimar
com esse cheiro no ar

vamos flutar no céu de trem
vamos seguir sempre além além
não se iluda com a voz de quem
tem o veredito amém amém
tem o veredito amém amém
tem o distintivo amém amém

perdeu playboy, a casa caiu




agora, a original








peguei um trem muito doido e tal
para mim voar é tão legal
inda mais se o destino for
recompor o amor

desco a ladeira da razão
pra chegar na estrada coração
e sentir o vento é tão bom
pra alegrar o tom

muita gente na verdade quer
um motivo para dar no pé
só que falta o dom de se livrar
e cair no ar

vem comigo viajar também
e fazer da vida nosso bem
e o bem de se fazer tão bem
faz voar o trem

vamos flutuar no céu de trem
vamos seguir sempre além além
não se iluda com a voz de quem
tem o veredito amém amém
tem o veredito amém amém
tem o veredito amém amém




essas imagens foram catadas no google, sem pedir pra os donos, espero que eles não se importem

4 de julho de 2011

hoje eu chorei

por tua causa, em minha casa, chorei. ainda sentindo teu gosto na boca, eu chorei. lembrando teu corpo branco, tuas curvas e teu cheiro. e chorei contigo ainda ao lado pois sabia que não voltarias
não a mesma. nunca a mesma.
enquanto te tocava percebia que aquele era o fim. e me despedi com meu toque em tua pele ainda na mente. adeus cebola, vá direto pro estômago junto com o pão, o alface, o tomate...

15 de junho de 2011

Natasha

...
Quando atingi a idade de 16 anos, falei para meu pai que gostaria muito de conhecer mulher. Todos os meus amigos, mais velhos que eu, haviam ido no Castelo Vermelho com seus pais e voltaram mais seguros de sua masculinidade, aprenderam o que fazer com uma mulher. Estava na hora de eu também entrar neste novo mundo e, pelo que me lembro, eu estava cheio de ansiedade e receios.

Ao ouvir meu pedido, meu pai coçou o cabelo e sorriu.

-- Temos que inventar uma desculpa para sua irmã, afinal, ela vai querer sair também -- Foi a única coisa que ele disse.

Aquela noite não foi diferente das noites contadas pelo meus amigos, na verdade eu até havia colocado muitas espectativas nela. Entretanto, naturalmente, eu sai de lá satisfeito, tentando mostrar-me como o mais novo homem da sociedade carioca.

Eu lembro que depois de tudo, quando voltávamos para casa a pé vendo o nascer do sol, meu pai me contou uma história que eu jamais viria a esquecer.

"Existem pessoas no mundo que abusam dos sentimentos alheios, que se acham conquistadores de tudo e de todos, mas não planejam cumprir com seus deveres, apenas se aproximam, brincam conosco e depois vão embora, isto sempre nos parte o coração. Estas pessoas parecem inofensivas, mas elas nos drenam a energia, devoram nossos corações e no fim, acredite, não resta nada. Talvez o mundo venha a ser vazio em algumas poucas décadas, meu filho; não vazio de pessoas, mas vazio de corações".

Lembro do rosto de meu pai iluminado pela luz laranja do amanhecer. Ele era para mim o exemplo mais perfeito de homem e herói. Embora um homem branco, contra aquela luz ele parecia escuro e cheio de energia, exibia o perfil de um deus dos céus, forte por natureza e sábio de espírito.

"Quando você for ver sua mulher, caro filho, deve respeitá-la e amá-la por inteiro, pois isto mostra que você respeita e ama a si próprio. Não seja como estas pessoas tristes que agem deliberadamente, elas estão perdidas no vale profundo da existência".

Com o passar dos anos, naturalmente, as palavras do meu pai, embora sempre na minha cabeça, perderam força diante de um mundo complexo e severo, mas as palavras dele nunca foram desonradas... Até agora!

Acontece que esta mulher apareceu. Branca como a neve, linda como a mais bela das sereias sonhadas pelos abstinentes marinheiros estrangeiros e também doce como mel de engenho, seus lábios eram como alucinógeno de prazer inexpressável e seu corpo era morno como o mais convidativo dos achocolatados em terra de inverno semestral. Esplêndida, fantástica, única em todo o mundo dos sonhos e em toda a realidade corriqueira. Se chama Natasha, e seu nome ressoa como sinos angelicais no céu eterno de amor e deleite.

Vê-la, por si só, é gozar. A vida perdeu todo o sentido a partir do momento que ela surgiu na minha vida, a partir do momento que ela me tocou, me chamou e me levou para o reino do sonhar, o verdadeiro reino do sonhar, onde todos os sonhos se misturam com a realidade. Eu não achei que aquilo fosse possível, nunca experimentei a sensação antes, mas infelizmente não há o que se fazer mais: nunca esquecerei aquela mulher e todas as outras se tornaram apenas outras. Natasha foi a única, em toda a minha miserável vida, que me tocou o coração, a única que o levou consigo e o guarda para sempre na terra do amor.

Agora eu reflito nas palavras de meu pai. Tudo indica que ela, aquela maravilhosa fada divina, brincou comigo como se fosse apenas seu passatempo, como se fosse apenas um quarto de hotel que ela usou para se alojar por um tempo. Ela partiu, deixou-me só, esquecido e esquecedor de tudo o que viera antes.

Me pergunto, oh pai, como devo viver agora, que minha única mulher se foi como se o vento soprasse sua direção? Não há motivação para mais nada nesta vida, tudo perdeu seu gosto e sua importância no meu viver, mas quando lembro daquele tempo com ela, pai, tudo brilha e é alegre novamente.

Que devo fazer, afinal? Amaldiçoá-la por me tirar o mundo de antes, ou abençoa-la por me mostrar o paraíso em terra?
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6 de junho de 2011

Victória & Hugo

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Victória falando: oi Hugo! Quando é que você vai para a pracinha? Depois de tantos convites fiquei curiosa para ver como ela é.

Victória pensando: ele finalmente venceu pela insistência, mas pelo menos vou ficar mais animada. Todo mundo fala que a pracinha tem muitos lugares discretos...

Hugo falando: Hum! você quer ir à pracinha hoje?

Hugo pensando: como assim!? Por esta eu não esperava! Eu achava que ela tava com o saco cheio. E agora? O que vou fazer? Eu tava querendo ir ver a Cristina mais tarde...
Hugo pensando: não rola!

Hugo falando: puxa vida! Logo hoje, Victoria!

Victória falando: o que tem hoje?

Hugo falando: bem... Vai haver o aniversário de um familiar, vou ajudar com a festa.

Hugo pensando: boa! Depois eu penso num jeito melhor de dispensar ela... Fica muito estranho. Tô tão acostumado a dar em cima que sequer notei que era só de costume. Caramba! quero sair com ela não...

Victória falando: puxa! Logo hoje que eu não tenho hora pra voltar pra casa...

Victória pensando: e ai, Hugo, tem certeza?
Hugo pensando: uau! Ela tá querendo uma festinha... Caramba! Deixa pra lá - deixa pra lá, melhor ir ver a Cristina, senão é fuleragem com ela.

Hugo falando: puxa, é que não dá mesmo. Tá tudo certinho já, e família é família, você sabe, né?

Victória pensando: que droga! Agora quem vou pegar?

Victória falando: está bem, então, Huguinho. Qualquer coisa me liga, tá?

Victória pensando: vai que ele resolve voltar atrás...
...
Dedico a Victor Hugo, por me emprestar o nome das personagens.
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2 de junho de 2011

Soneto da procuração

...
Porque você escreve assim?
Eu queria entender tudo
Queria o claro no escuro,
Simples e direto - ai de mim!

Leio sem nada entender
Procurando naquelas palavras,
Poemas ou prosas inacabadas
Falando sobre o meu ser

Não conheço minha importância
E no meio dessa ignorância
Me sinto muito inseguro

Queria declaração aberta
Você completamente certa
Contendo amor mais maduro
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Medo de escuro

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Juliana entrou em casa já com certo receio. Não por que estava escuro e não estivera no lar nos últimos dois dias, mas por que sentia que havia algo diferente no ar. Tinha a sensação de que alguém havia entrado na sua casa durante sua ausência. Abriu a porta, que não rangia, já que ela tinha o cuidado de passar óleo de máquina onde devia ser passado sempre que possível (quase um vício - "ódio desses barulhinhos"), e procurou imediatamente, com as mãos, o interruptor que acenderia a luz e ajudaria a evaporar de vez aquela sensação horrível de presença alheia. Acionados os interruptores com os dedos, apenas a lâmpada externa respondeu - "isto é hora de lâmpada queimar?". Não haveria mais problema algum: escancarou a porta para deixar a luz da varanda entrar e poder encontrar caminho livre para os quartos e cozinha, onde poderia acender mais interruptores.

Caminhando pela sala escura, viu um vulto pardo com os cantos do olho. Como todo vulto assustador que se preze, passou rápido e sem deixar barulho algum, alimentando a sensação agoniante de companhia e, mais ainda, de que há um observador paciente à espreita. Calculou que faltavam apenas poucos passos para alcançar os interruptores do quarto, mas resolveu assim mesmo apressá-los, e tombou com o joelho na pontinha da mesinha de sala. Toda uma dor elétrica circulou em sua perna e um desejo instantâneo e instintivo de sentar no sofá para se recuperar foi saciado.

Até então não havia som algum. Quanto mais o tempo passava mais evidente ficava o som da própria respiração no seio do lar inanimado. A luz externa dava contornos desconhecidos aos objetos da sala, especialmente às pedras manufaturadas de formado humanóide. Um espelho ao fim da sala deveria permitir ver parte do quarto, juntamente com a cama e o guarda-roupas, mas a luz não era suficiente para clarear tanto, se perdia em algum ponto empoeirado depois do espelho.

O cão da vizinha começou a latir. Animais sentem quando alguma coisa esquisita está acontecendo. Como uma rede virtual de comunicação, toda a vizinhança canina pôs-se a chamar a polícia, com latidos, mas só Juliana teve esta sensação. Alguma coisa estava errada! Alguém estava na casa! Por favor me ajudem! O grito tolo e rouco saia sem sair, por que era ridículo gritar por algo que não existe, ou que pelo menos não se sabia que realmente existe. Juliana cogitou simplesmente postular que havia alguém na casa e sair gritando para o socorro amigo de algum vizinho próximo, como fizera diversas vezes quando pequena, seja com um monstro no armário, seja com um duende debaixo da cama - "naquela época não era preciso ver para ter certeza de que estavam lá." Os únicos empecilhos eram seus joelhos que ainda reclamavam imobilidade e o orgulho -"não tenho medo do escuro".

Passados quase um minuto de paciência infinita ao som de latidos e com dor na perna, Juliana se levanta para ir ao quarto ligar a luz. Passou a ouvir o bater de seu coração, forçando sangue para o resto de seu corpo, como se este se recusasse a aceitar. Simultâneo ao seu passo escuta o cantar grave de um pássaro mensageiro - "vou morrer!". Ela estava ficando com os nervos à flor da pele, não dava para continuar aquela jornada sozinha. Juliana voltou para a porta aberta e saiu da casa.

16 de maio de 2011

nós fica junto

se você quiser nós fica junto
pro que der e vier nós fica junto
e quando o disco voador aqui estiver nós fica junto
mas se tu não quiser nós não fica junto

vamos para a lua para plantar feijões espaciais
vamos cultivar abismos colossais
e a gente vai tanger os meteoro lá no jardim
numa fazenda lunar pra mim e pra ti

se você quiser nós fica junto
e da ribanceira nós pula junto
No fundo do mar nós nada junto
mas se tu não quiser nós não fica junto

vamos mergulhar num submarino atômico
e as estrela do mar nós pode caçar
e com o arpão nós pode matar
as sereias lá do mar

se você quiser nós fica junto
as cinza do vulcão nós fuma junto
na praça de são pedro nós fica junto
mas se tu não quiser nós não fica junto

vamo se queimar na quentura da lava
e desviar os trilhos lá do trem
vamo atrapalhar a eleição do papa
e comer mingau de aveia só de birra

se você quiser nós fica junto
pro que der e vier nós fica junto
até o fim nós fica junto
mas se tu não quiser nós não fica junto

28 de abril de 2011

Números

...
Segundo a wikipedia
****

Campinas, onde moro, tem 1.081.000 habitantes.
Paulista, onde eu morava, tem 301.000 habitantes.

São Paulo tem 19.224.000 habitantes.
Recife tem 1.537.000 pessoas.

Aproximadamente, claro!
...

11 de abril de 2011

Big Brother Brasil, um programa imbecil

Autor: Antonio Barreto,



Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.

Há muito tempo não vejo
Um programa tão ‘fuleiro’
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.

Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, ‘zé-ninguém’
Um escravo da ilusão.

Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme ‘armadilha’.


Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.

O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.

Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.

Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.

Respeite, Pedro Bienal
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dar muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.

Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.

Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.

A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os “heróis” protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.

Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.

Talvez haja objetivo
“professor”, Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.

Isso é um desserviço
Mal exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.

É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos “belos” na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.

Se a intenção da Globo
É de nos “emburrecer”
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.

A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto a poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.

E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não deem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.

E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.

E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.

A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.

Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.

Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores?

Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal…
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga, animal…

FIM

Salvador, 20 de fevereiro de 2011.

31 de março de 2011

Decisões

...
A decisão do Sr. José apareceu dois dias depois. Em geral não se diz que uma decisão nos aparece, as pessoas são tão zelosas da sua identidade, por vaga que seja, e da sua autoridade, por pouca que tenham, que preferem dar-nos a entender que reflectiram antes de dar o último passo, que ponderaram os prós e os contras, que sopesaram as possibilidades e as alternativas, e que, ao cabo de um intenso trabalho mental, tomaram finalmente a decisão. Há que dizer que estas coisas nunca se passaram assim. Decerto não entrará na cabeça de ninguém a ideia de comer sem sentir suficiente apetite, e o apetite não depende da vontade de cada um, forma-se por si mesmo, resulta de objectivas necessidades do corpo, é um problema físico-químico cuja solução, de um modo mais ou menos satisfatório, será encontrada no conteúdo do prato. Mesmo um acto tão simples como é o de descer à rua a comprar o jornal pressupõe, não só um suficiente desejo de receber informação, o qual, esclareça-se, sendo desejo, é necessariamente apetite, efeito de actividades físico-químicas específicas do corpo, ainda que de diferente natureza, como pressupõe também, esse acto rotineiro, por exemplo, a certeza, ou a convicção, ou a esperança, não conscientes, de que a viatura de distribuição não se atrasou ou de que o posto de venda de jornais não está fechado por doença ou ausência voluntária do proprietário. Aliás, se persistíssemos em afirmar que as nossas decisões somos nós que as tomamos, então teríamos de principiar por dilucidar, por discernir, por distinguir, quem é, em nós, aquele que tomou a decisão e aquele que depois a irá cumprir, operações impossíveis, onde as houver. Em rigor, não tomamos decisões, são as decisões que nos tomam a nós. A prova encontramo-la em que, levando a vida a executar sucessivamente os mais diversos actos, não fazemos preceder cada um deles de um período de reflexão, de avaliação, de cálculo, ao fim do qual, e só então, é que nos declararíamos em condições de decidir se iríamos almoçar, ou comprar o jornal, ou procurar a mulher desconhecida.
...
(José Saramago - Todos os nomes)

26 de março de 2011

Um dia...

...
No saguão do prédio passavam deslumbrantes raparigas com suas saias de verão. Mais ou menos no meio da fila para o refeitório, observava a cena um garoto de nove anos, acompanhando sua irmã, que vestia o mesmo uniforme de todas as outras raparigas de lá. "Não te rales", falou a rapariga de dez anos que também o acompanhava, "elas não são para você", acrescentou. Havia, naquele tom de voz, uma certa inveja por ela não ser cobiçada daquela maneira. O rapazinho, naturalmente, não notou: fugiu para o interior de seus pensamentos imaginando se um dia alguma daquelas raparigas "seriam para ele".
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17 de março de 2011

Sozinhos (parte 6)

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-- Cheguei em casa ontem e finalmente bebi Jurubeba.
-- Foi mesmo, cara? Minha tia se acidentou antes do carnaval, bebeu muito.
-- Você sabe, né? Estava a um tempão querendo experimentar...
-- Ela saiu experimentando tudo e a mistura não deu muito certo.
-- Foi presente de Israel, mas guardei para uma ocasião mais própria.
-- Israel nem apareceu para dar uma força a ela no hospital.
-- Fuleragem, hein? Mas dizem que Jurubeba foi a bebida deste carnaval.
-- Hum... deve ter sido. Minha tia teve que passar por cirurgia.
-- Bem, eu não sei. Sei que bebi e achei até boazinha.
-- Beleza cabra, a gente se fala por ai.
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26 de fevereiro de 2011

Bonitinha mas ordinária

O mineiro só é solidário no câncer.

Eu quero mais.

No Brasil, todo mundo é Peixoto.

Ela, Edgard, é a última das cachorras!

15 de fevereiro de 2011

Aviso da Lua que menstrua

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
Cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
Às vezes parece erva, parece hera
Cuidado com essa gente que gera
Essa gente que se metamorfoseia
Metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
E ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
Mas é outro lugar, aí é que está:
Cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
Que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
Transforma fato em elemento
A tudo refoga, ferve, frita
Ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
É que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
É que tô falando na "vera"
Conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
Delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
Ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
Já se alcança a "cidade secreta"
A atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
Cai na condição de ser displicente
Diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
Que a mulher extrai filosofando
Cozinhando, costurando e você chega com mão no bolso
Julgando a arte do almoço: eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
Tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
Então esquece de morder devagar
Esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
Chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
Vaca é sua mãe. de leite.
Vaca e galinha...
Ora, não ofende. enaltece, elogia:
Comparando rainha com rainha
Óvulo, ovo e leite
Pensando que está agredindo
Que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!



Elisa Lucinda

1 de fevereiro de 2011

Apesar de acertarmos mil vezes somos lembrados pelo único erro que cometemos!

by Plínio

31 de janeiro de 2011

Dê-me um apoio

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Eu queria ser mulher. Não que eu não esteja satisfeito com meu corpo, com minhas saliências e meu cheiro forte, não é isto. Eu penso que tudo parece ser muito mais simples para a mulher. Veja meu pai, por exemplo, nunca irá aceitar que eu prefira o corpo do Gianecchini ao invés de ficar babando pela gostosona do comercial de cerveja que ele insiste em me passar na cara: "pra ver se você toma jeito, rapaz!". Mulher também gosta de homem e ninguém reclama. Todavia, se eu fosse mulher, talvez, para manter a problemática social, eu seria lésbica; talvez eu seja "assim" só por ser contra este determinismo polarizado que a sociedade insiste em manter. Se eu fosse mulher, lésbica, seria mais aceita. Sei lá: todo mundo diz que choca muito um beijo público entre homens, mas mulheres se beijando até agradam a maioria. É fogo. Será que se eu fosse mulher meu pai me aceitaria? Não sei, acho que sim. Imagino ele falando com o olho de lado, com um cuidado especial para não afrontar sua filha "metida a homem"; mas comigo parece até que eu estou perdido no mundo, que ele pode zoar e me humilhar entre a família e até entre amigos. Isto, porque ele nem sabe de minhas experiências ainda, acha que sou celibatário, mas por quanto tempo? Quando ele souber o mundo cai, me deserda e rompe todos os laços, eu sei. Se eu fosse mulher, ele desmaiava e me aceitava no ano seguinte, no natal.

Complicado até para arranjar um namorado decente. Conheci um rapaz decente estes dias, um tal de Daniel. Bonito e sorridente, esbanja charme com seus óculos discretos e seus olhos brilhantes. Eu senti logo quando nossos olhares se bateram que ele também gostou de mim. Eu tentei me aproximar e parece que ele ficou com medo. Saquei que ele não admitia que sentia atração por mim. Caramba! Já não é fácil se sintonizar com um cara e quando aparece um ele ainda não superou a parte da aceitação? Se eu fosse mulher, usaria esta moda que tá pegando por ai. Sim, sim, tem uma moda por ai. Tudo que é menina nova parece que é iniciada em experiências de carinhos e beijos com outras meninas. Vejo em todo lugar, todo mundo acha legal. Se bem que tem muito menininho entrando na moda também, os caras tão escancarando a porta do homossexualismo para as próximas gerações. Eu acho o máximo, mas os meninos tudo tão ficando delicados demais, sentimentais demais pro meu gosto...

Aqui dentro tudo é tão estranho... Victor, aquele otário do jiu jitsu, chegou pra mim outro dia me esculachando. Num instante dei um fora que o coitado chega ficou vermelho, ali, na frente de todo mundo. Foi o máximo. Foi fácil também: eu não estou nem aí pro Victor - Ele que exploda! - Com meu pai, por outro lado, é muito mais complicado. Ai como gostaria que ele me apoiasse! Que eu pudesse, quem sabe um dia, convidar o Daniel pra passar o natal conosco lá em casa! Com a família toda reunida, todos juntos, sem dissimulações, sem precisar esconder minha verdadeira identidade. Será que é troca: para ser feliz com meu companheiro, tenho que perder o amor de minha família?
...

25 de janeiro de 2011

Chocolate

A roupa colada, as curvas morenas
Você está tão linda
Tua marca estampada, teu cheiro no ar
Você me alucina
O gosto amargo, o sabor do teu corpo
Te quero todo o dia

São muitas as marcas, muitos sabores
Tantas as formas, tantas as cores
mas o que eu gosto mesmo é o teu gosto moreno
teu chocolate caseiro
o aroma por teu corpo inteiro

Chocolate, você tem gosto de
Chocolate, garota você tem cheiro de
Chocolate, morena da cor do chocolate
Tento esquecer o passado, vivo o presente e temo o futuro.

11 de janeiro de 2011

...

Ultimamente ele andava despreocupado com tudo. Nos últimos dois meses tudo que fazia dava certo e estava se acostumando com isso. Acordou cedo, sem precisar de despertador, levantou-se e foi direto para o banheiro escovar os dentes. Precisava de uma escova nova, a velha já estava toda afinalada devido ao uso contínuo. Escovou os dentes.
Vestiu as calças e sapatos da empresa e colocou uma camisa branca, praticamente o uniforme de sua sessão. Pegou sua mochila, a pôs nas costas e foi tomar café na lanchonete da esquina. Um café puro e torradas. O de sempre.
Seria mais um dia como todos os outros. Mais um dia igual.
O Sol ainda estava começando a incomodar, não se atrasaria para o trabalho. Andou leve, como se nada pudesse atrapalhar seu dia. Olhava para o céu admirado com o degradê azul formado pelos raios solares brincando no atmosfera. Tropeçou.
Olhou para trás e viu, deitado no chão, manchado de sangue e usando uma roupa absurdamente estranha um rapaz de seus trinta e cinco anos, desmaiado.

6 de janeiro de 2011

Momento diário

Era uma segunda-feira e o trabalho não ia bem. Por mais que eu tentasse as palavras não fluiam e o pensamento estava preso em apenas uma idéia, a vida está acontecendo lá fora! Esse é o tipo de pensamento pequeno que pessoas pequenas têm quando suas vidas não bem. Eu nunca quis ser um grande homem. Minha vida não vai bem.

As pessoas falavam coisas pelo msn. Tudo fica mais fácil de se dizer quando não se têm olhos perseguindo os seus. Não, estou sem dinheiro pra beber hoje. Uma conta e um gráfico, era tudo que eu precisava mas, tive que me contentar com um ou dois cigarros.

Encontrei um amigo. Agora sim estava começando a falar minha língua. Conversamos algum tempo e, quando estava para voltar ao trabalho ele recebe uma ligação, feliz aniversário. Opa, é teu aniversário? Parabéns.

Eles marcaram de ir ver um filme no cinema, ele me chamou, eu fui. Pessoal legal as meninas, quatro ao todo. Conversamos por algum tempo, comemos alguma coisa de um restaurante perto do cinema e desistimos de ver o filme, ia terminar tarde pras meninas. Um pequeno detalhe, as "meninas" eram todas mais velhas que eu! Decidimos ver o filme, elas iam embora e eu ia assistir com meu amigo, desistimos de ver o filme que nós, homens, queríamos, as meninas decidiram ficar. Vimos o filme que elas queriam, ruim com alguns momentos engraçados. Comédia nacional.

Quando todos foram embora e eu estava sozinho novamente decidi acender um cigarro. Podia esperar o último ônibus passar pra ir pra casa. Ele passou e foi embora me deixando sentado na parada, terminando meu cigarro. Fui beber, bebi, três cervejas, enquanto esperava a vida passar e me encontrar no meio do caminho. Tinha esse cara e essas duas meninas e eles estavam conversando. Na falta do que fazer, escutei a conversa deles. Gente metida, burgueses. Se eu chegar pintando de ator agarro fácil a galega, a que parecia ser mais fútil. Mas o outro carinha queria ela. Fodam-se eles, vou ficar com minha cerveja hoje.

Enquanto esperava o ônibus chegar vi dois viados e duas viadas. Os viados deram em cima, mandei eles tentarem na próxima parada. Ironias da vida, quando as mulheres que tinham me deixam, e eram algumas, aparecem viados. Foda-se a vida e fodam-se os viados. Sei que eles querem isso mas, não comigo.