31 de janeiro de 2011

Dê-me um apoio

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Eu queria ser mulher. Não que eu não esteja satisfeito com meu corpo, com minhas saliências e meu cheiro forte, não é isto. Eu penso que tudo parece ser muito mais simples para a mulher. Veja meu pai, por exemplo, nunca irá aceitar que eu prefira o corpo do Gianecchini ao invés de ficar babando pela gostosona do comercial de cerveja que ele insiste em me passar na cara: "pra ver se você toma jeito, rapaz!". Mulher também gosta de homem e ninguém reclama. Todavia, se eu fosse mulher, talvez, para manter a problemática social, eu seria lésbica; talvez eu seja "assim" só por ser contra este determinismo polarizado que a sociedade insiste em manter. Se eu fosse mulher, lésbica, seria mais aceita. Sei lá: todo mundo diz que choca muito um beijo público entre homens, mas mulheres se beijando até agradam a maioria. É fogo. Será que se eu fosse mulher meu pai me aceitaria? Não sei, acho que sim. Imagino ele falando com o olho de lado, com um cuidado especial para não afrontar sua filha "metida a homem"; mas comigo parece até que eu estou perdido no mundo, que ele pode zoar e me humilhar entre a família e até entre amigos. Isto, porque ele nem sabe de minhas experiências ainda, acha que sou celibatário, mas por quanto tempo? Quando ele souber o mundo cai, me deserda e rompe todos os laços, eu sei. Se eu fosse mulher, ele desmaiava e me aceitava no ano seguinte, no natal.

Complicado até para arranjar um namorado decente. Conheci um rapaz decente estes dias, um tal de Daniel. Bonito e sorridente, esbanja charme com seus óculos discretos e seus olhos brilhantes. Eu senti logo quando nossos olhares se bateram que ele também gostou de mim. Eu tentei me aproximar e parece que ele ficou com medo. Saquei que ele não admitia que sentia atração por mim. Caramba! Já não é fácil se sintonizar com um cara e quando aparece um ele ainda não superou a parte da aceitação? Se eu fosse mulher, usaria esta moda que tá pegando por ai. Sim, sim, tem uma moda por ai. Tudo que é menina nova parece que é iniciada em experiências de carinhos e beijos com outras meninas. Vejo em todo lugar, todo mundo acha legal. Se bem que tem muito menininho entrando na moda também, os caras tão escancarando a porta do homossexualismo para as próximas gerações. Eu acho o máximo, mas os meninos tudo tão ficando delicados demais, sentimentais demais pro meu gosto...

Aqui dentro tudo é tão estranho... Victor, aquele otário do jiu jitsu, chegou pra mim outro dia me esculachando. Num instante dei um fora que o coitado chega ficou vermelho, ali, na frente de todo mundo. Foi o máximo. Foi fácil também: eu não estou nem aí pro Victor - Ele que exploda! - Com meu pai, por outro lado, é muito mais complicado. Ai como gostaria que ele me apoiasse! Que eu pudesse, quem sabe um dia, convidar o Daniel pra passar o natal conosco lá em casa! Com a família toda reunida, todos juntos, sem dissimulações, sem precisar esconder minha verdadeira identidade. Será que é troca: para ser feliz com meu companheiro, tenho que perder o amor de minha família?
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25 de janeiro de 2011

Chocolate

A roupa colada, as curvas morenas
Você está tão linda
Tua marca estampada, teu cheiro no ar
Você me alucina
O gosto amargo, o sabor do teu corpo
Te quero todo o dia

São muitas as marcas, muitos sabores
Tantas as formas, tantas as cores
mas o que eu gosto mesmo é o teu gosto moreno
teu chocolate caseiro
o aroma por teu corpo inteiro

Chocolate, você tem gosto de
Chocolate, garota você tem cheiro de
Chocolate, morena da cor do chocolate
Tento esquecer o passado, vivo o presente e temo o futuro.

11 de janeiro de 2011

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Ultimamente ele andava despreocupado com tudo. Nos últimos dois meses tudo que fazia dava certo e estava se acostumando com isso. Acordou cedo, sem precisar de despertador, levantou-se e foi direto para o banheiro escovar os dentes. Precisava de uma escova nova, a velha já estava toda afinalada devido ao uso contínuo. Escovou os dentes.
Vestiu as calças e sapatos da empresa e colocou uma camisa branca, praticamente o uniforme de sua sessão. Pegou sua mochila, a pôs nas costas e foi tomar café na lanchonete da esquina. Um café puro e torradas. O de sempre.
Seria mais um dia como todos os outros. Mais um dia igual.
O Sol ainda estava começando a incomodar, não se atrasaria para o trabalho. Andou leve, como se nada pudesse atrapalhar seu dia. Olhava para o céu admirado com o degradê azul formado pelos raios solares brincando no atmosfera. Tropeçou.
Olhou para trás e viu, deitado no chão, manchado de sangue e usando uma roupa absurdamente estranha um rapaz de seus trinta e cinco anos, desmaiado.

6 de janeiro de 2011

Momento diário

Era uma segunda-feira e o trabalho não ia bem. Por mais que eu tentasse as palavras não fluiam e o pensamento estava preso em apenas uma idéia, a vida está acontecendo lá fora! Esse é o tipo de pensamento pequeno que pessoas pequenas têm quando suas vidas não bem. Eu nunca quis ser um grande homem. Minha vida não vai bem.

As pessoas falavam coisas pelo msn. Tudo fica mais fácil de se dizer quando não se têm olhos perseguindo os seus. Não, estou sem dinheiro pra beber hoje. Uma conta e um gráfico, era tudo que eu precisava mas, tive que me contentar com um ou dois cigarros.

Encontrei um amigo. Agora sim estava começando a falar minha língua. Conversamos algum tempo e, quando estava para voltar ao trabalho ele recebe uma ligação, feliz aniversário. Opa, é teu aniversário? Parabéns.

Eles marcaram de ir ver um filme no cinema, ele me chamou, eu fui. Pessoal legal as meninas, quatro ao todo. Conversamos por algum tempo, comemos alguma coisa de um restaurante perto do cinema e desistimos de ver o filme, ia terminar tarde pras meninas. Um pequeno detalhe, as "meninas" eram todas mais velhas que eu! Decidimos ver o filme, elas iam embora e eu ia assistir com meu amigo, desistimos de ver o filme que nós, homens, queríamos, as meninas decidiram ficar. Vimos o filme que elas queriam, ruim com alguns momentos engraçados. Comédia nacional.

Quando todos foram embora e eu estava sozinho novamente decidi acender um cigarro. Podia esperar o último ônibus passar pra ir pra casa. Ele passou e foi embora me deixando sentado na parada, terminando meu cigarro. Fui beber, bebi, três cervejas, enquanto esperava a vida passar e me encontrar no meio do caminho. Tinha esse cara e essas duas meninas e eles estavam conversando. Na falta do que fazer, escutei a conversa deles. Gente metida, burgueses. Se eu chegar pintando de ator agarro fácil a galega, a que parecia ser mais fútil. Mas o outro carinha queria ela. Fodam-se eles, vou ficar com minha cerveja hoje.

Enquanto esperava o ônibus chegar vi dois viados e duas viadas. Os viados deram em cima, mandei eles tentarem na próxima parada. Ironias da vida, quando as mulheres que tinham me deixam, e eram algumas, aparecem viados. Foda-se a vida e fodam-se os viados. Sei que eles querem isso mas, não comigo.