30 de novembro de 2012

O laço e o abraço

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 Meu Deus! Como é engraçado!
 Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço...
 Uma fita dando voltas.
 Enrosca-se, mas não se embola,
 vira, revira, circula e pronto:
 Está dado o laço.

 É assim que é o abraço
 coração com coração,
 tudo isso cercado de braço.

 É assim que é o laço:
 um abraço no presente, no cabelo, no vestido,
 em qualquer coisa onde o faço.

 E quando puxo uma ponta, o que é que acontece?
 Vai escorregando...
 devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.
 Solta o presente, o cabelo,
 fica solto no vestido.
 E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço.

 Ah! Então, é assim o amor, a amizade.
 Tudo que é sentimento.
 Como um pedaço de fita.
 Enrosca, segura um pouquinho,
 mas pode se desfazer a qualquer hora,
 deixando livre as duas bandas do laço.

 Por isso é que se diz: laço afetivo, laço de amizade.
 E quando alguém briga então se diz: romperam-se os laços.
 E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum pedaço.

 Então o amor e a amizade são isso...
 Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.
 Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço.

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(Maria Beatriz Marinho dos Anjos)
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11 de setembro de 2012

Na BR

Lá vem o ciclista pedalando no acostamento de uma via pública quando um carro aparece. O carro vem de uma via transversal e o motorista cuidadosamente olha para ver se pode entrar na via com segurança. Quando vê o carro parando e o motorista olhando cuidadosamente o ciclista pensa que o motorista parou por causa dele e prontamente, e inocentemente, acelera para que não atrase o pobre motorista em seu trajeto para sabe-se lá onde.
Enquanto passa na frente do carro percebe que o último acelera enquanto ele ainda está passando.
Conclusão: bicicletas funcionam tal qual uma capa da invisibilidade.

27 de maio de 2012

Dinheiro é para ser gasto

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Ele me chamou de pirangueiro, aliás, ele sempre me chama de pirangueiro. "Pirangueiro" aqui significa "mão de vaca", "mão fechada" ou simplesmente um sujeito que guarda dinheiro sempre, não importa a situação, sem motivos fixos, embora sempre tenha um motivo na ponta da língua. Este sou eu, muitas vezes. Embora pirangueiro pirangueiro mesmo, não sou, mas gosto muito de ponderar e isto me faz  parecer pirangueiro e, neste mundo, na grande maioria das vezes, parecer é muito mais que o suficiente.

Ali estava ele comentando o quanto eu deixo de viver apenas para manter uma graninha a mais para os imprevistos, que deixo de aproveitar a bela e maravilhosa noite boêmia do Recife Antigo só porque quero manter uns reais para o final do mês. Um dia hei de ficar apenas com dinheiro, sem amigos, sem experiências, sem graça... O dinheiro foi feito para ser gasto, e nada mais. Naturalmente não estamos sendo radicais: pagas as contas e o plano de saúde, deve-se usar o dinheiro dia-a-dia.

"Você comeu?" perguntei rapidamente enquanto entrava na sala, claramente procurando por uma companhia para o almoço. "Não, estou com pouca grana", disse ele em seguida, "bem...", respondi prontamente, "o Restaurante X é só três reais", onde no mundo se come bem (em quantidade e, sim creia, com qualidade) por apenas três reais? Ele disse, "não, trouxe coisa de casa para comer". No dia anterior ele estava sem grana para jantar e ficou sem comer. Na verdade, eu nunca tinha pensado nisto tudo, e provavelmente não pensaria, se em algum ponto de uma conversa no mesmo dia eu não fosse enquadrado como pirangueiro novamente. Eu refleti um pouco, não muito, mas sentia que algo disto tudo não se encaixava exatamente. Como um cara consciente como ele estava com pouco dinheiro já no meio do mês? Não era o caso.

Nos dias que se seguiram eu sempre perguntava "vamos almoçar no restaurante X?", porque era barato, mas ele sempre alegava falta de dinheiro. Quando um dia liguei para ele antes de chegar ele estava almoçando com a namorada, e como ela é um tanto quanto refinada, era no restaurante Y, onde o quilo custa R$ 26,90. Eu sorri. Não é que sejamos diferentes, eu penso, mas que ele prefere se abster de gastar enquanto é para ele, para poder gastar com a namorada. Para melhorar a sentença anterior repito a frase dele: "se um amigo precisa que pague a conta, não tem problema nenhum, eu pago, o importante é aproveitar - dinheiro é para ser gasto".

Mesa de bar: isto é aproveitar, concluí. Só um pouco diferente da minha visão, onde prefiro comer normalmente cada dia e, de vez em quando, deixar de sair (até porque sou muito caseiro) para me manter melhor depois. Eu não consigo, olhando assim, pensando assim, distinguir minhas atitudes da do meu amigo que apenas tem diferentes prioridades. Isto me faz pensar que, na própria lógica dele, ele também é um pirangueiro. Para repetir minha frase do primeiro parágrafo, eu não sou pirangueiro, mas com certeza não quero passar os últimos dias do mês sufocado.
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10 de abril de 2012

Quântica dois meus caros, quântica dois. Querem que eu diga mais alguma coisa?