23 de maio de 2008

Essa me foi mandada por Orkut e vale a pena ser repassada aqui:
Rui Barbosa, ao chegar a sua casa um certo dia, ouviu um barulho estranho vindo do seu quintal. Chegando lá, constatou um ladrão tentando levar seus patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com seus amados patos, disse-lhe:
"Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas sim pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinquagésima potência que o vulgo denomina nada."
E o ladrão, confuso, diz:
"Dotô, eu levo ou deixo os patos?"
Esse é Rui Barbosa. Chiquérrimo!!!

14 de maio de 2008

Cruzamento

Uma história de duas pessoas. A primeira delas é um homem... Bem, a segunda delas também é um homem. Podemos concluir que esta é uma história de dois homens. Estes dois indivíduos nunca se cruzaram durante toda a vida, exceto (claro! tinha que ter um exceto) em uns dez minutos um bocado peculiares. Para entender o processo, talvez injustificável (!?) de como aconteceu, temos antes que tomar o início da narrativa duas semanas antes do evento.

Joaquim Tavares (os nomes citados nesta narrativa fazem parte de escolha aleatória do autor, qualquer semelhança com outras pessoas é mera coincidência) estava numa sinuca de bico, quer dizer, numa saia justa ou nunca situação apertada, se é que você me entende... Aí ele achou que uma das soluções possíveis (porque não era única) era se endividar com um camarada que retinha boa parte de dinheiro em seus obscuros cofres de fundo de beco. E assim foi. Depois de algum tempo (uma semana e três dias) Joaquim tinha que pagar a dívida, mas não tinha como. Avisado outrora que acidentes aconteciam, Joaquim resolveu solucionar este problema com o ato de assaltar: dinheiro entra fácil e não tem mais ninguém para se preocupar por isto. Como não era um cara experiente e ainda estava muito receoso, esperou uma semana para realizar seu primeiro assalto. Escolheu justamente aquele outro camarada cujo nome não foi pronunciado no início do texto, lembra? (Se não, favor recomece a ler o texto prestando mais atenção) Pronto.

Adamastor Valente (o outro camarada cujo nome não foi pronunciado no início do texto) era bizarro. Não faço a mínima idéia de onde pode ter surgido um cara daquele jeito (acho que você vai concordar comigo) : deixa eu contar... Adamastor não conhecia absolutamente nada e não sabia de nada. Era como um espectro que nunca existiu e que em poucos segundos já iria deixar de existir, quando talvez dobrasse uma esquina. Tinha pinta de agricultor, mas nunca tinha visto nenhum dos equipamentos que estão espalhados usualmente nas plantações. Ele vagava, naquele dia, como um "zé ninguém" no meio de um mundo que parecia que não conhecia nem um pouco.

Foi neste estado que Joaquim abordou Adamastor.

-- Muito bem! Passe a carteira, celular, dinheiro no bolso? Manda tudo.
Adamastor fica imóvel. Joaquim olha bem para a cara do outro infeliz e se arrepende quase que instantaneamente.
-- Bem, senhor, deseja que eu lhe dê tudo o que tenho? Não posso, tive recomendações para não deixar nenhum estranho levar as minhas coisas.

Joaquim se irrita, queria que tudo fosse rápido e se sente extremamente arrependido.

-- Muito bem, então... (Joaquim saca a arma e ameaça o outro)

Ao passo que Adamastor responde:

-- Ah! O senhor não fica com raiva de mim, não? É que disseram que este mundo era perigoso e tomam suas coisas sem você querer. As coisas que eu tenho eu vou precisar.
-- Hey, calma calma calma calma... Fica quieto! Isto aqui é um arma, não está vendo? Se não me passar as coisas eu juro que te detono.
-- Uma arma? Eu conheço armas muito mais pontiagudas que esta, não acho que poderia me destronar, aliás, não sou rei.

Joaquim pára, olha em volta e não acredita. Aquele cara lá parecia estar falando mesmo a verdade. Era o timbre de voz, sei lá. Joaquim então explica:

-- Esta arma atira... E o que sai daqui de dentro é muito mais potente que qualquer arma pontiaguda. Eu disse DETONO.
-- Lanças são muito eficientes. Isto é melhor que uma lança? Ah, já te disse: não sou rei.
-- Isto vale por mil lanças, um tiro e você morre. Eu falei detonar de detonação: eu te mato!
-- Mil lanças? Porque você quer meu dinheiro se tem dinheiro para comprar mil lanças?
-- Esta arma é emprestada. Estamos conversando muito: passa logo este dinheiro.

Adamastor põe a mão nos bolsos e faz sinal de negativa.

-- Meu nome é Adamastor. Qual o seu?
-- Cala esta boca e passa logo o que você tem aí...
-- Aí onde? Não tenho nada.
-- Nos bolsos.

Adamastor dá mais uma olhada nos bolsos e volta a olhar para o outro infeliz (infeliz aqui se refere ao outro e não a Adamastor, tá?) com sinal de negativa. Joaquim acha, ou tem certeza, que tem alguma coisa ali. Quando pede pela quarta vez e quinta percebe que tem duas alternativas: a primeira é desistir de assaltar aquele cara, a segunda é meter-lhe o cacete: descer o pau no otário. Definitivamente ele estava arrependido de ter escolhido aquele "pinta de agricultor" pobre. Pelo menos serve de lição a escolha do pato.

Quando Adamastor perde a consciência Joquim lhe mete a mão pelos bolsos da calça jeans. Não havia nada, a não ser uma carteira de Hollywood suave, a chave de um cadeado pequeno e areia. Joqum se recolhe com os ciagarros, vira o beco e sai de mansinho (discreto a passos largos) ; talvez orgulhoso da coragem em abordar, talvez arrependido do ato de não conseguir nada.