14 de dezembro de 2006

Sussurros e delírios

"O tempo está parado.", mas era só o calor. As lajotas de concreto que calçavam a entrada externa faziam aquilo às 13:50 naquele verão de 2004. Sobral sabia que era pedir muito, mas era a última coisa que ele queria sentir ali. Apesar de ter visto o ônibus que acabou de descer partir, foi só depois de ter passado pela roleta de metal e visto aquela longa trilha de lajotas que o som do seu ônibus se afastando vez algum sentido: "sábado de tarde, o que eu tou fazendo aqui?!"

Quatro anos de hábito o vez andar e, por não querer estar ali, pensar sobre a paisagem antes de alcançar a entrada do centro. O caminho de concreto era cercado por matagal, mais de 400m quadrados só o do lado direito, terminando nos muros do CRCN. O pouco vento não tirava a sua cara fechada, quando finalmente entrou no centro. Niguém.

A plaquinha de "fechado" na porta de vidro da biblioteca, uma tv de 14' ligada sobre a recepção daquele prédio e aqueles corredores de chão liso e cinza escuro vazios fizeram mudar num instante o rosto de Sobral "eu paro às 18:00 e volto por onde? O mesmo caminho é deserto demais, o do CTG é longe, e se o vigia não aparecer? Pelo menos tem o do departamento... mas eu quero é VOLTAR, o departamento é seguro até demais". Ele ainda percebeu a ausência do cachorro que fica sempre deitado entre a biblioteca e a recepção, mas, dobrando a esquerda, o calor e as lajotas de concreto o fez agradecer, desta vez, ao toldo de plástico azul que o cobria.

A entrada do departamento contrastava com o prédio inteiro do centro (menos com a falta de gente, é claro). Aquilo parecia um shopping ou então um hotel de luxo. Depois de ter deixado nome e hora de entrada na ata da recepção (que o vigia só acompanhou por 2s), passou pela entrada dos laboratórios do térreo e começou a subir até o 1º andar. O único som que ouvia - o eco dos seus passos - o vez lembrar daqueles filmes de terror trash onde o monstro, "quer dizer, o cara com a fantasia medíocre de monstro" corrigiu rápido Sobral era um cientista que saia do laboratório e ...

Quando esbarrou com aquela coisa peluda e branca, um pouco menor do que ele, que corria pelo corredor do 1º andar, Sobral quase caio de costas sobre a escada que acabou de subir (toda vez que ele conta essa história, fala do medo de ter quase caído, mas lembra que o que também sentiu foi o medo do "mosntro"). Apesar de franzino, Cristiano puxou Sobral pra frente evitando a queda, resmungou algo sobre o professor Erivaldo e disparou rumo à sala limpa. Ainda desorientado do susto, Sobral se encostou na parede ofegante, esperou Cristiano sair de vista e andou duas vezes mais rápido até o D.A. "Que cara maluco! É por causa desse visual de Einstein dele que a gente leva a fama de doido!" assim lembrou do cabelo de Cristiano enquanto ligava um computador do D.A.

Sem entender direito, o computador que ele tentou ligar já estava funcionando e com o navegador aberto na página de um blog que falava algo sobre química, línguas e outras coisas... "Sério! Eu não vou ler isso no estado que eu tou, principalmente..." foi a primeira frase do artigo do blog que prendeu a sua atenção. Em 10 segundos já tinha lido dois parágrafos e corria os olhos cada vez mais ávido pelo que estava escrito alí...

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