27 de agosto de 2010

Motivações

"Cara, tu sai do Recife vem para cá sem ter falado com nenhum orientador e sem ter ninguém aqui que tu conheça - significa que com certeza tu NÃO estava satisfeito com a vida lá."
(A. -- em conversa informal)

Acho que algumas pessoas realmente pensam que eu resolvi mudar de vida por que estava insatisfeito com minha rotina no Recife. Eu mesmo sinto que meu discurso não soa convincente para a maioria das pessoas: eu estava muito bem em Recife, só queria vir por simples aritmética básica que, esta sim eu não posso negar, não gostei. Hoje graduado em física pela UFPE, o que me levou quatro anos e meio, e mestre também pela UFPE, o que me levou dois anos exatos - a defesa da dissertação foi no mesmo dia da colação de licenciado - sintia-me mais ou menos confortável naquele universo acadêmico onde eu tinha meu lugar e conhecia as pessoas já a, se deixei claro os números o leitor me acompanhou, seis anos e meio. A continha aritmética que não gostei foi somar, aos vinte e quatro anos que hoje tenho de vida, os próximos quatro anos que são comprometidos com o doutoramento. Isto significa que, em caso de fazer doutorado na UFPE - que é nível 7 na capes e tudo está tranquilo e preparado - eu saio de lá com vinte e oito anos e mais de dez anos sobre o mesmo teto universitário de sempre.

O objetivo da maioria das pessoas que faz graduação, pelo menos em física, e quer seguir a vida acadêmica lá no Recife, acredito, é ser professor da Universidade Federal de Pernambuco. O meu caso não é diferente. Quando for contratado, numa hipótese otimista, vou passar muito mais de dez anos sobre o mesmo teto. Por este objetivo eu quis sair um pouco, afinal de contas, como posso colaborar para a melhora e manutenção de um lugar do qual tudo que sei aprendi lá e tudo o que fazem me soa como natural?
...
Uma vez me disseram, e isto não me pareceu informação boba, que as mulheres tendem a querer engravidar na casa dos vinte. Seguindo alguns raciocínios (...) mulheres de trinta e poucos anos já são chamadas "titias" e por isto no final da década de seus vinte anos elas consideram com veemência ter ou não ter filhos em sua vida. Eu acho que a minha vida deve ter a alegria e simpatia que as crianças trazem, mas me sinto completamente leigo sobre cuidar das outras pessoas e, na verdade, sou leigo em diversos aspectos em como cuidar de mim. Filho único de mãe solteira, há muita coisa que me acostumei a ter em mãos com certa facilidade, dizendo de outra forma, eu mesmo não cuido de mim - como saberia cuidar de uma criança ou família? Existe a antigüíssima alternativa de se "aprender na tora", mas "prevenir é melhor que remediar". Nos Estados Unidos a cultura expulsa a criatura de casa quando esta tem dezoito anos e eu aqui, com vinte e quatro, não sei fazer nada que não use apenas ovo, água, pipoca ou macarrão instântaneo. Em uma carta para o meu primo, solicitei que ele pensasse um pouco no futuro dele - como acho que a todo conselho que se dá se deve refletir sobre si mesmo, aqui estou eu.

Evidentemente, pode-se resolver o problema acima alugando uma casa, não necessariamente indo para o outro lado do Brasil, mas a questão acadêmica é, e a ordem da exposição textual visa enfatizar este fato, tanto quanto este comentário, a motivação maior. Aqui a capes dá nível 7 ao Instituto de Física e meu currículo não sai pior do que sairia na UFPE - existe uma possibilidade, e esta eu fiquei sabendo depois, de meu bolso sair mais cheinho, mas depende de orientador e outras questões mais complicadas. O problema financeiro não é a preocupação, já que vim para um lugar onde se gasta muito mais que em Recife.

Existem diversos problemas a resolver: não estou com moradia garantida e não tenho orientador, ou seja, não tenho o que pesquisar e meu doutorado, por este motivo, ainda não começou de fato. Estas coisas se resolverão nas próximas semanas, claro, se eu me mover e tomar contas das rédeas da minha própria vida...

Estou aqui não por que quero a liberdade e a privacidade plenas, se bem que acabarei experimentando, mas por que mais cedo ou mais tarde algo pode vir a precisar de uma resposta rápida e tenho em mim que esta experiência pode me ajudar a responder devidamente.

2 comentários:

Anônimo disse...

Good lucky!
Nada é impossível quando metemos a cara para encarar os desafios.É preciso arriscar sempre.De fato,não é fácil mas por ora é gratificante quando temos o reconhecimento devido ao esforço.
Conseguir orientador?Mostre suas habilidade,se provou que podes está aí...o que será conseguir um mero orientador.Mole,mole querido.
E buscar respostas?Quanto a isso todos os dias aprendemos algo em busca das respostas e fazemos novamente outras perguntas em busca de mais respostas é o ciclo que temos que conviver na nossa labuta cotidiana afinal,que graça teria todo este empenho.

Boa sorte,cara.

Eu disse...

frescura do caralho