19 de novembro de 2006

O Malandro

(chico Buarque)

O malandro Na dureza
Senta à mesa Do café
Bebe um gole De cachaça
Acha graça E dá no pé

O garçom No prejuízo
Sem sorriso Sem freguês
De passagem Pela caixa
Dá uma baixa No português

O galego Acha estranho
Que o seu ganho Tá um horror
Pega o lápis Soma os canos
Passa os danos Pro distribuidor

Mas o frete Vê que ao todo
Há engodo Nos papéis
E pra cima Do alambique
Dá um trambique De cem mil réis

O usineiro Nessa luta
Grita (ponte que partiu)
Não é idiota Trunca a nota
Lesa o Banco Do Brasil

Nosso banco Tá cotado
No mercado Exterior
Então taxa A cachaça
A um preço Assustador

Mas os ianques Com seus tanques
Têm bem mais o Que fazer
E proíbem Os soldados
Aliados De beber

A cachaça Tá parada
Rejeitada No barril
O alambique Tem chilique
Contra o Banco Do Brasil

O usineiro Faz barulho
Com orgulho De produtor
Mas a sua Raiva cega
Descarrega No carregador

Este chega Pro galego
Nega arrego Cobra mais
A cachaça Tá de graça
Mas o frete Como é que faz?

O galego Tá apertado
Pro seu lado Não tá bom
Então deixa Congelada
A mesada Do garçom

O garçom vê Um malandro
Sai gritando Pega ladrão
E o malandro Autuado
É julgado e condenado culpado pela situação

Nenhum comentário: